Um país SONOLENTO
Vai ficar como uma marca das nossas vidas. Estes dias desertos, esta atmosfera de medo, esta angústia da espera pelo relatório da DGS do dia seguinte, esta contabilidade dos infectados, os números estonteantes de mortos. E a espera. Esperamos tudo. Que a vida não se apague. Que o vírus não ataque. Que o futuro vá para além de todos os vaticínios de desespero. Que os nossos resistam. Sobretudo os mais velhos.
Isolamo-nos sonolentos, com medo de um acordar devastador. Despertamos para confiar na frase que corre painéis de publicidade de que tudo vai ficar bem. Sabemos que este “tudo vai ficar bem” não é absoluto. Vão ficar feridas profundas. Um rasto de morte e dor que ninguém esquecerá. Até nos melhores sonhos que a epidemia esfarrapa em pesadelos. Não, não vai ficar tudo bem. Agora, e por enquanto, estamos absorvidos pelo desespero dos dias. À espera do tal pico ou planalto que nunca mais chega. Testemunhando sofrimento de todos quantos ainda despertam o País com trabalho heróico. Desde padeiros a camionistas. De polícias a profissionais de Saúde.
Muitos refugiam-se na catarse da crítica, sem imaginar como é dolorosa a refrega. Outros, nem querem ver as notícias. Todos contamos os dias, tão longos!, e as horas intermináveis, onde só há tragédia, espanto e medo.
Não, não vai ficar tudo bem. É preciso avisar toda a gente, como cantava Francisco Fanhais. É preciso que se comece a perceber que, depois de descermos o planalto epidémico, um novo mundo se abre perante os nossos olhos. Que ainda desconhecemos mas que se adivinha. Quando o País despertar, vai ser necessário ter raiva nos dentes para seguir em frente. Porque estaremos mais pobres. Muito mais pobres. E de luto!