POR ESSAS FALÉSIAS FORA
Começámos na Zambujeira do Mar, passámos por Milfontes, corremos na praia dos Aivados e fomos espreitar o futuro junto à ilha do Pessegueiro. Não há como a Costa Vicentina para nos revelar pequenos tesouros escondidos.
Sem a concorrência das grandes unidades hoteleiras, a costa alentejana aposta cada vez mais numa oferta turística personalizada, familiar, diferenciadora e a apontar para a natureza e para os patrimónios locais. Há quem lhe chame “turismo com gente dentro”. O verão de 2021 vai ser de descobertas e redescobertas nesta região.
Dar tempo ao tempo na Zambujeira do Mar
h São especialistas em retardar o tempo, na Herdade do Touril. Ou melhor, são especialistas em reduzi-lo à sua condição elementar. A essa essência metafísica que aqui, no Alentejo, é conhecida como vagar. Ora aí está: vagar. Nenhuma outra palavra esclarecerá melhor este con
ceito turístico. O vagar que se opõe à urgência. E o vagar que tremula sobre as ondas. Ou não terminassem os 365 hectares que perfazem o Touril numa frente de mar com mais de três quilómetros. Logo a norte da Entrada da Barca, que é o porto piscatório da Zambujeira do Mar.
Como unidade turística, a Herdade do Touril (a partir de €120, com descontos de reabertura até 30%) tem cerca de duas décadas. Mas como casa agrícola existe desde 1826. Sempre na mesma família. A família de Luís Leote Falcão, que hoje gere os destinos deste santuário de turismo natural em plena costa alentejana. O tempo, outra vez, “o tempo é aquilo que com ele conseguimos fazer”, teoriza: “no Touril queremos apenas que seja bem passado”. Na receção aos hóspedes há quatro relógios. Cada um acertado em seu fuso horário: Nova
EM PARCERIA COM A TASCA DO CELSO, O TOURIL ASSUME-SE COMO BASTIÃO DO TURISMO ALENTEJANO
Iorque, Sydney, Hong Kong... Touril. “Se quisermos, podemos prolongar o dia, ao sabor da nossa imaginação.”
O complexo do Touril distribui-se por cinco casas térreas, ao estilo da arquitetura tradicional, com 18 diferentes unidades de alojamento autónomas, todas elas dotadas de terraço exterior direcionado para o pôr do sol: Moiral, Feitor, Pastor, Rendeiro e Monte. Mas é no Monte central, como manda a tradição, que estão os serviços de utilização comum. A piscina de água salgada, a loja de produtos regionais, a sala de estar e biblioteca e o restaurante. “O nosso foco não é apenas o Touril, é toda a região”, informa Luís Leote para justificar a parceria que estabeleceu com um dos mais consagrados restaurantes da região, a Tasca do Celso, em Vila Nova de Milfontes.
Miguel Batista é o chef de serviço. Fez um estágio na Tasca do Celso para se apropriar dos segredos e dos detalhes da ementa que agora replica no Touril. Os vegetais vêm diretamente da horta biológica. As carnes, dos produtores da região e o peixe, esse, quase salta do mar para a panela. Mas a estrela da companhia é o polvo. Um dos grandes ex-líbris desta que é ainda uma das mais preservadas orlas costeiras de toda a Europa. Ironia do destino, hoje foi-nos servido um belo lombinho de porco preto no forno com alecrim e legumes salteados. Segunda ironia do destino, o gelado de morangos do hortejo também é imperdível, apesar da concorrência sensaborona e desleal dos frutos que são insuflados nas estufas que descaracterizam a paisagem. “Não podemos deixar que matem a galinha dos ovos de ouro”, alerta Luís Leote.
Com efeito, a Herdade do Touril, na sua ampla dimensão, acaba por ser uma espécie de tampão contra o avanço da cultura intensiva de frutos vermelhos em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Ativista pela qualidade ambiental neste pedaço de paraíso à beira-mar, Luís Leote sabe como ninguém que o futuro, Q
Q ali, passa pela proteção e conservação da natureza e pela valorização das gentes e da cultura local. Tal como tentam avisar as expressões, paradas no tempo, dos dois anciãos que o artista plástico Diogo Muñoz desenhou para as paredes da Herdade. “É tão-somente isto”, concluí Luís Leote.
Boas notícias em Vila Nova de Milfontes
h Isto sim, é notícia: no número 10 da rua do Diário de Notícias, em Vila Nova de Milfontes, há uma casa saída de uma história de encantar. É a Casa do Adro (de €67 a €95). A casa onde habitam Idália e João. O casal mais amoroso (não há que ter medo da eventual pieguice das palavras) de que há memória no universo turístico da costa alentejana. A casa, em si, só deferirá da casa da nossa avó não pelo estilo, mas pelo organizado exagero de bibelôs e de bricabraque e de naperons e de fotografias de família. É acolhedora, em toda a sua aparentemente desorganizada organização. Os quartos são sete, cada um com a sua personalidade que, no fundo, são a súmula da carinhosa personalidade da pessoa que há coisa de 23 anos resolveu levar por diante o projeto da sua vida, D. Idália. O cheiro que pode emanar da cozinha é tentador. Sempre. Principalmente quando o bolo de chocolate começa a dar sinais que quer sair do forno.
Design minimalista na praia dos Aivados
h Começou por ser uma exploração de avestruzes, no tempo em que a crise das vacas loucas exigia alternativas. Deixou de o ser, e ainda bem, quando a gripe das aves pôs fim à alternativa. Hoje, as 3 Marias, renascida para o alojamento turístico, é um dos locais mais interessantes para se ficar no campo junto ao mar do Alentejo, neste caso a praia dos Aivados, quer pela arquitetura e pelo design minimalista, quer pelo enquadramento natural arrebatador entre a serra e o oceano (entre €100 e €190). Há por ali boa comida, um forno e laboratório de cerâmica, uma piscina a pedi-las e até uma casa na árvore com vista para um safári onde as feras podem balir em vez de rosnar. Baltasar Trueb é o homem que pôs o projeto em marcha. Quanto ao nome, é fácil. Ali mesmo ao lado, junto à serrania do Cercal, foi rodado o filme A Casa dos Espíritos. Jeremy Irons, fazendo de conta que estava no Chile de outros tempos, representou o papel de Esteban Trueba, o senhor da fazenda Las Tres Marias. Et voilà.
Uma novidade na praia da ilha do Pessegueiro
h Um pôr do sol como este que daqui se avista será difícil de encontrar em toda a costa alentejana. Para mais, um pôr do sol que oficialmente ainda não existe, salvo seja. O Monte da Bemposta, que fica a cerca de cinco minutos a pé da praia da ilha do Pessegueiro, está para inaugurar logo a seguir à Páscoa. O cenário é idílico. Que o diga a família Castelo Branco, proprietária do Horto do Campo Grande, que para ali se mudou de armas e bagagens, sem deixar a simpatia ficar para trás. Diz quem sabe da poda, Pedro Castelo Branco, que não há em Portugal “local mais deslumbrante” para fazer passeios a cavalo. E é precisamente essa uma das principais apostas de um projeto que vai debutar com uma dezena de casas autónomas, três suítes e cinco quartos. Em frente ao núcleo central do monte, uma piscina, e em frente a esta um paddock com cavalos, claro está, burros, alpacas, lamas e ovelhas. Outra novidade: no meio de uma mata há dois campos de padel novinhos em folha, prontos a estrear. Bolas, bolas. W
O VERÃO DE PORTO COVO VAI TER MAIS UMA NOVIDADE NO ALOJAMENTO: O MONTE DA BEMPOSTA