Os outros poderes
PSD, CDS e PCP também se cruzam com o Montepio
Q ção: o da administradora Helena Costa Pina, mulher do ex-secretário de Estado do Tesouro Carlos Costa Pina, trazida na era de Tomás Correia.
Os maçons e os católicos
O cruzamento intenso entre o PS e o Montepio tem duas fontes: a maçonaria e o catolicismo progressista, ambos com ligação a setores do partido e afinidades à natureza social do mutualismo. “Não é do tempo da democracia, já vinha de épocas anteriores”, indica Nuno Valério, professor
PSD José Matos Correia, Fernando Seara e José Eduardo Martins apoiaram Tomás Correia. Carlos Tavares preside ao banco e Alípio Dias está no Conselho Geral da Mutualista.
PCP Maria das Dores Meira, autarca de Setúbal, apoiou Tomás Correia em 2019. Uma das listas adversárias tinha apoio de Eugénio Rosa, Honório Novo, entre vários outros. no ISEG e coautor de uma história do Banco Montepio, referindo-se à influência das duas correntes. O efeito de ponto de entrada tende a ser tanto mais forte quanto mais próximo do poder está o partido – e nenhum esteve mais no poder depois do 25 de Abril do que o PS.
O Estado Novo controlara o Montepio: Óscar Carmona, maçon, foi dirigente do Montepio, tal como o irmão do também maçon e militar Craveiro Lopes, por exemplo. Depois de quase ter sido nacionalizado a seguir ao 25 de Abril – foi salvo por um grupo de funcionários de várias proveniências partidárias –, o Montepio começou a integrar naturalmente pessoas ligadas ao PS e ao PCP, quer da via católica progressista, quer da maçónica, atraídas por um tipo de projeto que o socialismo europeu desenvolvera com sucesso.
Em 1977, entra Manuel Pina para a administração do Montepio, socialista e marido de Maria de Belém, que traz consigo Vítor Melícias. Estes abrem a instituição a socialistas católicos progressistas, como a própria Maria de Belém ou Alberto Ramalheira (ambos ainda no Conselho Geral). Nesta altura o Montepio era pequeno e até 1983 os órgãos sociais não eram remunerados
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA E DA CORRENTE CATÓLICA “JÁ VINHA DE ÉPOCAS ANTERIORES”
– o que mudaria muito já neste século (o presidente recebe cerca de 30 mil euros brutos por mês). E este é o grupo a que um ex-diretor do Montepio, João Simeão, chama em tom crítico de “grupo do Banzão”, a zona perto de Colares, perto de Sintra, onde alguns políticos e gestores na área do PS, como Carlos Santos Ferreira, têm casa. A sua mulher, Madalena, trabalharia no Montepio cinco anos, dois em licença sem vencimento, saindo reformada por invalidez.
Na instituição criada em meados do século XIX por maçons do Grande Oriente Lusitano – o pelicano que é a marca da instituição é um símbolo maçónico de partilha –, a influência da maçonaria continuou depois da revolução. A expansão protagonizada por Costa Leal tornou o Montepio uma grande instituição – de 37 balcões em 1988 passou para 286 em 2003 – e mais apetecível. Nas eleições de 2004 duas listas lideradas por pessoas da área socialista disputam o poder: a de Maldonado Gonelha, socialista maçon e ex-administrador de Costa Leal, e a do economista Silva Lopes. A segunda vence e nela está António Tomás Correia, que anos depois viria a liderar a Mutualista até 2019 e o banco até 2014.
A crise expôs a partir de 2011 os problemas no Montepio, que comprara o problemático Finibanco à família Costa Leite por um valor muito superior ao das avaliações de mercado, e surgiram investigações judiciais e processos de contraordenação do Banco de Portugal contra a gestão de Tomás Correia. A situação do Mutualista levou o Governo de António Costa a validar, através do ministro Vieira da Silva, a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no capital do banco Montepio – a Santa Casa liderada por Edmundo Martinho, que apoiaria mais tarde a reeleição de Tomás Correia. Esse plano para capitalizar o banco fracassou e, entretanto, a acionista Mutualista continua em dificuldades. A expectativa nos bastidores da instituição é que o peso de 600 mil associados e a ligação ao PS levem o Governo a não deixá-la cair – o próprio primeiro-ministro deu essa garantia no parlamento em 2017. Falta saber como. W