TERRA DE ALGUÉM
1917
k A 16 de abril de 1917, na mais bárbara das guerras – a última das clássicas, a primeira das modernas –, dois soldados britânicos (George MacKay e Dean-Charles Chapman) recebem a missão impossível de sair da sua trincheira, atravessar terra de ninguém e entregar uma mensagem junto à nova linha avançada do inimigo, tentando impedir uma armadilha germânica que levará ao massacre de 1.600 homens.
Publicitado sobretudo pela proeza técnica de um único e gigantesco plano-sequência – falso, mas de raro engenho –, o novo filme de Sam Mendes, autor de Beleza Americana ou Revolutionary Road e já este ano premiado (por este filme) como Melhor Realizador, nos Globos de Ouro –, cai um par de vezes na tentação do virtuosismo (as cenas noturnas na vila incendiada, o encontro do pelotão onde um furriel canta), mas acaba por triunfar como viagem homérica pela lama da memória europeia.
Baseando-se nas memórias de Alfred H. Mendes, o avô escritor, de ascendência madeirense, do realizador – onde estão as imagens cinematográficas do irresponsável envolvimento português neste suicídio? –, 1917 não atiça, nem procura, os fantasmas morais do esmagador Horizontes de Glória de Stanley Kubrick. Mas o cheiro a desespero, e a desesperança, sublinha a adrenalina.
Como diz o coronel Mackenzie (a personagem aqui interpretada por Benedict Cumberbatch), na guerra “a esperança é uma coisa perigosa”. W