Conversa com a fadista, que fala do disco mais autoral da carreira
Depois de ter dado voz aos temas de Tom Jobim, em Carminho canta Jobim, e quatro anos depois de Canto ,afadista regressa ao fado com o disco mais autoral da carreira. Por Ângela Marques
Diz que o fado a salvou sempre – quando não era cool ser fadista ou quando percebeu que a mãe, Teresa Siqueira, tinha razão: o fado seria sempre o lugar aonde Carminho regressaria, o lugar que a acolheria. E o fado é muita coisa, do poema ao folclore, das violas às guitarras eléctricas que inclui no novo disco, Maria. Porque “nem só de fado vive o fadista”, diz.
O disco começa com um tema à capela. Já no Verão, no Sol da Caparica, cantou assim. Como é que um fadista se sente num festival? Reconhecido. Não é expectável que o fado, que se pressupõe cantado num ambiente intimista, que é acústico – nem sequer é um género electrificado –, tenha tomado esta proporção. Acho que há qualquer coisa de umbilical que fez com que os portugueses aprendessem a não se espartilhar e a não ter preconceito. E o fado tem argumentos para ser cantado e tocado num festival de Verão.
Quem é esta Maria? É uma Carminho com mais personalidade e mais controlo? Esta Maria é uma regressão à minha infância, à forma como o fado me tocou nas várias fases da minha vida e àquilo que realmente para mim é fado – o que é que o fado me diz efectivamente, o que é que para mim continua a ser o fado independentemente das formas de instrumentação, da forma como se canta ou onde se canta (se é no Sol da Caparica ou numa casa de fados), o que é que realmente se preserva e o que não podes deixar que desapareça porque então deixa de ser fado.
É coincidência essa regressão acontecer após tantas colaborações fora do fado? As pessoas vivem a deambular entre aquilo que gostam de fazer e aquilo que precisam e de que têm saudades. E eu aceito desafios e vou-me deixando levar pela minha intuição, pela minha saudade e pela minha vontade de me aventurar. Quando senti vontade de começar a recolher repertório, aquele que me atraía eram fados, era o que me apetecia abordar. O que é que este disco diz sobre a Carminho que os outros não disseram? Como artista diz que a minha forma de me apresentar cresceu com todas essas colaborações. Eu vim com saudades mas trouxe imensa bagagem, e trouxe inspirações, não só do trabalho que fiz com Tom Jobim mas com os HMB, com o Chico Buarque (para se ver o espectro)… Eu trouxe uma liberdade de me poder expressar – que, pegando no início da conversa, me permitiu não ter medo de me assumir compositora, como produtora… e não que eu quisesse controlar mais, mas foi natural: eu ia falar sobre mim, sobre o que o fado me ensinou. E ensinou-me coisas importantes: a ideia de que a vida é em comunidade, que a vida é em grupo, portanto, tem de se estar junto. Daí ter querido gravar o disco ao vivo em estúdio, com toda a gente ao mesmo tempo.
Depois de colaborações com os HMB ou com os Tribalistas, Maria do Carmo (Carminho) volta ao fado mais original, com Maria