SÁBADO

Itália é o pior adversário de sempre para Portugal

Nem Espanha, França nem Brasil: a selecção transalpin­a é mesmo o adversário mais incómodo, com 18 derrotas em 25 jogos e só cinco vitórias.

- Por Rui Miguel Tovar

Desde a estreia, em 1921, até hoje, Portugal acumula 608 jogos espalhados por 82 selecções. No deve e haver, entre vitórias, empates, derrotas, golos marcados e sofridos, temos vantagem sobre 60, estamos empatados com seis (Costa do Marfim, EUA, Gabão, Paraguai, Tunísia, Ucrânia) e sobram 16. Desses 16, o pior de todos é a Itália.

Então e a Espanha? Só oito vitórias em 39 jogos mais o desnível de 31 golos (o pior de todos). E a França? Mau demais: seis vitórias em 25 jogos mais o negativo de 20 golos. E o Brasil? Quatro vitórias em 21 jogos e menos 25 golos. E a Alemanha? Três vitórias em 18. E em matéria de golos? Um jeitoso 16-29. E a Inglaterra, com quem já perdemos 10-0? Só três vitórias em 23 jogos e negativo de 21 golos. No meio disto tudo, a Itália consegue ser pior? Sim. À conta de cinco vitórias em 25 jogos e 22-51 em golos. Sem esquecer as 18 derrotas. É uma catástrofe. Pois, e há um Portugal-Itália no estádio da Luz, no próximo dia 10. Curiosidad­e maiúscula é a estreia da Itália na casa do Benfica: seja a Luz dos 120 mil lugares, seja a dos 65 mil, onde Portugal ganha 15 dos 18 jogos – o resto é o lendário 2-2 vs. Inglaterra no Euro’2004 mais o infeliz 1-0 da Grécia na final desse Europeu mais o 3-1 da Turquia em 2012. Daí para cá, sete vitórias seguidas e 19-1 em golos. Vem aí a Itália, cuidado. Cuidado, é material frágil. Desde o título de campeã mundial em 2006, a Itália nunca mais acerta o passo em Mundiais e cai duas vezes seguidas na fase de grupos (2010 e 2014) antes de falhar o apuramento em 2018. Aproveitem­os o desnorte para selar a sexta vitória. E as outras cinco? Vamos recordá-las, por anos.

1925 Convictos da sua superiorid­ade à chegada a Lisboa,

os jogadores italianos prevêem vitória por 3-1 ou 4-1. O mediatismo do jogo é enorme e é solicitado à Companhia da Carris o estabeleci­mento de carreiras especiais de eléctricos do Terreiro do Paço para o Campo Grande. A selecção marca na sequência de um canto. Domingos das Neves cruza, o guarda-redes Combi toca na bola ao de leve e o sportingui­sta João Francisco assina o 1-0 à boca da baliza. É a euforia completa, 15 mil pessoas vibram ruidosamen­te. E não se fala de outro assunto du-

rante uma semana, nem sequer da cena de pugilato no parlamento entre Carvalho da Silva e João Camoezas a propósito do roubo de 240 mil francos por parte do demissioná­rio ministro da Guerra.

PORTUGAL VENCE A ITÁLIA PELA PRIMEIRA VEZ (1925) E NÃO SE FALA DE OUTRA COISA – NEM DA CENA DE PUGILATO NO PARLAMENTO

1928 Ao 14.º jogo internacio­nal, a selecção portuguesa

celebra o primeiro hat-trick de sempre. A culpa, por assim dizer, é de Valdemar, ainda por cima na sua casa (Ameal), numa tarde de sucesso imprevisto com a Itália (4-1). O extremo-direito do FC Porto abre a conta aos 30 minutos e aumentaa aos 34. Antes do intervalo, Libonatti engana Roquette. Na segunda parte, Pepe assiste Vítor Silva para o 3-1 e Valdemar assina o tal

hat-trick no último minuto.

1957 A justiça da vitória por 3-0 é tal que os próprios italianos

reconhecem sem dificuldad­e a superiorid­ade portuguesa e um espectácul­o à parte chamado Matateu, autor de um golo e pedra-chave de um ataque demolidor. No final, Vittorio Pozzo, antigo selecciona­dor italiano e o único treinador bicampeão mundial (1934 e 1938), entra no balneário de Portugal para simplesmen­te dar os parabéns aos jogadores e ao selecciona­dor Tavares da Silva.

1976 A indignação está na ordem do dia. Por parte da imprensa

portuguesa, com a pergunta “como é que se paga 21 contos do erário público para ver este senhor a dar um triste espectácul­o?”. O senhor é o árbitro espanhol Emilio Guruceta e a contestaçã­o parte essencialm­ente da validação do golo italiano em claríssimo fora-dejogo. Quando se salienta o claríssimo é imaginar a diferença de dois metros. Vale-nos o bis de Nené com Zoff na baliza.

2015 Para fechar a época desportiva de 2014-15, Portugal e Itália

combinam um particular em campo neutro, na Suíça. À falta dos protagonis­tas (sem Buffon nem Cristiano Ronaldo, ambos capitães), sobra a emoção. Para já, há um jogador do Marítimo no 11 (Danilo), algo que não acontece há 20 anos, com a dupla Vado-Paulo Alves. Depois, há o espectácul­o Éder. Ao 18º jogo na selecção, o avançado do Sp. Braga marca finalmente o primeiro golo. E que golo. Eliseu, que substituír­a Fábio Coentrão por lesão aos 24 minutos, vai por ali fora e ultrapassa dois italianos antes de lateraliza­r para Quaresma, cuja trivela bem calibrada apanha Éder na cara de Sirigu. É o segundo golo do Sp. Braga na selecção, após o de Dito à RFA em 1983. Éder, fixe bem este nome.

 ??  ?? Quaresma (aqui junto de Pirlo), foi uma das figuras na vitória frente a Itália, em 2015. Éder também esteve em destaque: marcou o único golo
Quaresma (aqui junto de Pirlo), foi uma das figuras na vitória frente a Itália, em 2015. Éder também esteve em destaque: marcou o único golo
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