SÁBADO

Ser um homem em 2018

- Pedro Marta Santos Jornalista e argumentis­ta

Em 2018, ser um homem é o quê? Após 5.000 anos de opressão e ignomínia,

as mulheres estão finalmente a conquistar a plenitude dos seus direitos e a base crítica da sua expressivi­dade – isto a Ocidente, que no Médio Oriente ou na Ásia Menor continuam a ser tratadas como se estivéssem­os no século VII. E um homem, onde se situa no século XXI? A resposta deveria ser: no respeito mútuo e na simples decência. Mas, na feliz explosão de todas as minorias e de todas as diferenças, esquecemo-nos da crise profunda em que nós, homens, estamos mergulhado­s.

Age of Anger: a History ofthe Present (Penguin), de Pankaj Mishra, sintetiza o regresso da hipermascu­linidade que vem moldando a política e a ética contemporâ­neas. Fracos como somos, encurralad­os pelas vitórias femininas e confundido­s por uma dispersão identitári­a hoje defendida por poderosas forças sociais, fugimos da emasculaçã­o venerando figuras de poder cada vez mais primitivas e populistas, do chauvinism­o hindu e capitalism­o totalitári­o à altrightou ao islamismo radical: Narendra Modi, Xi Jinping, Viktor Urban, Donald Trump, Rodrigo Duterte – que avisou há dias as rebeldes filipinas: “não vos vamos matar; vamos só alvejar-vos na vagina” – ou os afilhados psicóticos de Bin Laden. A nostalgia de um tempo em que “os homens não precisavam de pensar duas vezes antes de ser homens” levou, no fim do século XIX, a surtos hipermascu­linos de nacionalis­mo racial que desembocar­am na I Grande Guerra. Esse tempo está de regresso. Com que novas consequênc­ias?

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