UM ABISMO EM TUDO MENOS NO RESULTADO
Campeões dominaram de princípio a fim. Mas faltaram golos a tão evidente superioridade
Uma final com desfecho esperado, mas com distâncias exageradas entre as duas equipas, permitiu ao FC Porto conquistar a tão almejada dobradinha. O jogo foi de sentido único, não teve o tempero adicional da emoção e foi decidido, pode mesmo dizer-se, exagerando, mal as equipas entraram em campo. O Tondela, que há uma semana desceu ao escalão secundário, abordou em dificuldade o momento de exaltação e sentiu a dificuldade em calibrar a desilusão e a expectativa; o sofrimento e a esperança. A equipa nunca se encontrou, foi demasiado expectante, cometeu muitos erros e, principalmente, não foi capaz de discutir verdadeiramente o que estava em causa. No fim, levanta-se a questão: face a uma diferença tão grande, como foi possível a vitória azul e branca não ter atingido expressão mais significativa? Os beirões entraram diminuídos e durante largos períodos pode mesmo dizer-se que não estiveram no Jamor; foram muito passivos e não tiveram argumentos para contrapor ao poderio do campeão nacional. Nessa perspetiva, a maior dose de responsabilidade para que o desequilíbrio não tivesse tradução no resultado pertenceu ao FC Porto. Os campeões, talvez surpreendidos com as facilidades, não se entusiasmaram; tiveram a bola mas foram pouco agressivos no seu manuseamento; trabalharam para sair vencedores, claro, mas permitiram ao adversário estar na luta durante muito tempo. Por temor, estratégia ou inferioridade assumida, o Tondela não esteve em campo na primeira parte. Foi quase escandalosa a dimensão do domínio portista: os dragões tomaram conta das operações a partir do primeiro minuto, jogaram sozinhos e geriram todas as incidências do duelo. A distância atingiu níveis tão elevados que o embate teve fisionomia irreverente com a final da Taça de Portugal. A juntar a essa incapacidade beirã para discutir o jogo mais importante da sua história, o Tondela fez ainda pior: ofereceu o golo ao adversário, com um penálti escusado.
Face à diferença de qualidade, ao desequilíbrio na posse e no futebol exibido, por explicar estava o resultado. A vantagem mínima encontrava-se desfasada da produção de uns e outros; não fazia sentido numa luta tão desigual; revelava que se o Tondela não estava em campo, o FC Porto não depositou intensidade, ferocidade e ambição necessárias para cumprir a obrigação de ganhar sem sofrimento.
Para cúmulo do exagero, o início da segunda parte acentuou o desnível da história: o campeão entrou mais forte, com intenção mais agressiva na pressão e nos movimentos de ataque, tudo perante um antagonista sem soluções nem armas para discutir o jogo e ainda mais frágil nas ações de cobertura. Antes de Vitinha fazer o 2-0, aos 52 minutos, os azuis e brancos desperdiçaram duas ocasiões claras de golo, sinal de que voltaram das cabinas empenhados em esclarecer de uma vez por todas quem era quem no ilustre palco do Jamor. Até final, o Tondela ensaiou tímidas investidas à baliza azul e branca, marcou no primeiro remate à baliza mas nem tempo teve para usufruir e sofreu no minuto seguinte.
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