Os benfiquistas merecem; o Benfica não merece
1. Depois das melhorias no processo defensivo, o Benfica tenderia a afirmar-se ofensivamente. Defender bem e não sofrer golos é meio caminho andado para a equipa ganhar tranquilidade e impor o seu jogo atacante. Foi o que aconteceu em Paços de Ferreira. Poder-se-á dizer que o Benfica beneficiou da expulsão prematura de um jogador adversário. É verdade. Só que o Benfica já estava a ser dominador, a revelar-se capaz de ligar o jogo atacante e a criar oportunidades de golo. Além do mais, não faltam exemplos de partidas em que a jogar em superioridade numérica o futebol até fluiu menos.
Os progressos do futebol atacante do Benfica têm explicações. Tudo começou na segurança defensiva, prolongou-se na participação ofensiva de Diogo Gonçalves e Grimaldo (ambos a anos-luz das alternativas) e consolidou-se num meio-campo que com Weigl e Taarabt oferece um critério e uma fluidez atacante que estiveram ausentes durante demasiado tempo. Na frente, em lugar de dois 9 que se atrapalhavam mutuamente, o facto de se ter passado a jogar só com um avançado-centro e dois jogadores com maior mobilidade e, também, mais criativos (ainda que com características distintas), tem feito muita diferença.
É, por isso, com naturalidade que o Benfica encetou uma senda vitoriosa e tem, de facto, capacidade para vencer todas as partidas até ao fim do campeonato. Como bem lembrou Jorge Jesus no final da partida, os benfiquistas merecem.
2. Foi com estupefação e tristeza que li no Record de sábado que José Veiga tinha estado a almoçar no Seixal com o presidente do Benfica. A notícia não foi desmentida. Há coisas de facto inexplicáveis, ainda para mais num quadro em que Luís Filipe Vieira, por força do seu envolvimento sucessivo em processos judiciais, tem problemas reputacionais. A obrigação de preservar o Benfica deveria ser óbvia. Ora, José Veiga, para além de ser uma triste personagem de um passado ao qual o futebol não pode regressar, é coarguido na Operação Lex. Bem sei que o juiz não decretou nenhuma inibição de contacto entre arguidos neste processo, mas manda o bom senso que tal não aconteça, muito menos envolvendo as instalações do Sport Lisboa e Benfica. Mais preocupante, Veiga, para além dos crimes que lhe são imputados no âmbito deste processo, está envolvido numa outra investigação, de contornos muito graves, associada à grande criminalidade internacional – no qual se juntam ditadores africanos, interesses petrolíferos, fluxos financeiros e branqueamento de capitais em larga escala. É verdade que tem direito à presunção de inocência. Mas não podemos esquecer que, por exemplo, está já inibido pelo Banco de Portugal. O que é que explica esta propensão para o abismo de Luís Filipe Vieira? Qual o motivo para o Seixal continuar a ser visitado por gente nada recomendável? O Benfica não merece e tem de ser protegido.