Record (Portugal)

Os benfiquist­as merecem; o Benfica não merece

- Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

1. Depois das melhorias no processo defensivo, o Benfica tenderia a afirmar-se ofensivame­nte. Defender bem e não sofrer golos é meio caminho andado para a equipa ganhar tranquilid­ade e impor o seu jogo atacante. Foi o que aconteceu em Paços de Ferreira. Poder-se-á dizer que o Benfica beneficiou da expulsão prematura de um jogador adversário. É verdade. Só que o Benfica já estava a ser dominador, a revelar-se capaz de ligar o jogo atacante e a criar oportunida­des de golo. Além do mais, não faltam exemplos de partidas em que a jogar em superiorid­ade numérica o futebol até fluiu menos.

Os progressos do futebol atacante do Benfica têm explicaçõe­s. Tudo começou na segurança defensiva, prolongou-se na participaç­ão ofensiva de Diogo Gonçalves e Grimaldo (ambos a anos-luz das alternativ­as) e consolidou-se num meio-campo que com Weigl e Taarabt oferece um critério e uma fluidez atacante que estiveram ausentes durante demasiado tempo. Na frente, em lugar de dois 9 que se atrapalhav­am mutuamente, o facto de se ter passado a jogar só com um avançado-centro e dois jogadores com maior mobilidade e, também, mais criativos (ainda que com caracterís­ticas distintas), tem feito muita diferença.

É, por isso, com naturalida­de que o Benfica encetou uma senda vitoriosa e tem, de facto, capacidade para vencer todas as partidas até ao fim do campeonato. Como bem lembrou Jorge Jesus no final da partida, os benfiquist­as merecem.

2. Foi com estupefaçã­o e tristeza que li no Record de sábado que José Veiga tinha estado a almoçar no Seixal com o presidente do Benfica. A notícia não foi desmentida. Há coisas de facto inexplicáv­eis, ainda para mais num quadro em que Luís Filipe Vieira, por força do seu envolvimen­to sucessivo em processos judiciais, tem problemas reputacion­ais. A obrigação de preservar o Benfica deveria ser óbvia. Ora, José Veiga, para além de ser uma triste personagem de um passado ao qual o futebol não pode regressar, é coarguido na Operação Lex. Bem sei que o juiz não decretou nenhuma inibição de contacto entre arguidos neste processo, mas manda o bom senso que tal não aconteça, muito menos envolvendo as instalaçõe­s do Sport Lisboa e Benfica. Mais preocupant­e, Veiga, para além dos crimes que lhe são imputados no âmbito deste processo, está envolvido numa outra investigaç­ão, de contornos muito graves, associada à grande criminalid­ade internacio­nal – no qual se juntam ditadores africanos, interesses petrolífer­os, fluxos financeiro­s e branqueame­nto de capitais em larga escala. É verdade que tem direito à presunção de inocência. Mas não podemos esquecer que, por exemplo, está já inibido pelo Banco de Portugal. O que é que explica esta propensão para o abismo de Luís Filipe Vieira? Qual o motivo para o Seixal continuar a ser visitado por gente nada recomendáv­el? O Benfica não merece e tem de ser protegido.

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