O labirinto de Lage
Sem brilho, mas com frutuoso sofrimento, o FC Porto isola-se na frente da tabela. Mas ainda falta muito caminho até ao título. Os grandes ainda terão alguns pontos para perder.
Este é um campeonato que se decide em jogos de pré-época
dolorosa. Não no espírito dos jogadores, que sentem profundamente o que está em causa e buscam a superação, mas a longa paragem ainda está tatuada no corpo de todos eles. Ontem, o Benfica fez meia parte intensa, sempre a cair sobre a bola, de forma a não deixar o Portimonense pensar.
Na segunda parte, os encarnados afundaram a pique.
Toda a gente que assistiu ao jogo testemunhou o desaparecimento do Benfica, mais rápido que o do sol. Todos vimos isso. Todos, menos Bruno Lage. O treinador ainda campeão esperou tempo de mais antes de agir. Inaceitável assistir sem reação ao primeiro golo do Por- timonense, e aos minutos seguintes, que confirmaram a chegada de mais um desastre.
Bruno Lage só mexe na equipa a 15 minutos do final,
quando Vinícius nunca deu prova de vida e Pizzi já tinha desaparecido, junto com Rafa. É certo que o Benfica fez duas substituições por lesão, mas Lage tem mais três para fazer e essas tardaram demasiado. Quando Lage mexe, já o jogo está empatado. A seguir verifi- ca-se, mais uma vez, outro detalhe incompreensível. Sempre que o Benfica de Lage colo- ca em campo dois ou mais pontas-de-lança, a equipa não se posiciona de forma a aumentar o caudal de cruzamentos. Bem pelo contrário, dois pontas-de-lança na área é sinal para tempo perdido em passes laterais e para trás. A entrada de pontas-de-lança em situação de empate ou desvantagem, tolda a clarividência dos jogadores. Parece que cada um não sabe exatamente o que fazer, naquela situação. Ora isso é inaceitável a este nível!
Por outro lado, a queda física nota-se mais no Benfica do que em adversários como Tondela ou Portimonense. A que se deve este fenómeno?
Com tamanha falta de ideias e inércia no banco, o Benfica de Lage parece-se cada vez mais com o de Rui Vitória. Não há alegria nos movimentos, surpresa, soluções.
E agora o que fazer? Não há varinha mágica que Vieira possa agitar nesta fase. A saída de Lage nada solucionaria. É Lage que tem de se reinventar. Para isso, será essencial fazer uma análise humilde ao trabalho que está a fazer. Especialmente ao que não faz, naquela hora e meia onde tudo se define, e onde Lage parece adormecido, sem instinto ganhador. Os jogadores estão com índices físicos de pré-época. O treinador está perdido no labirinto das suas convicções estafadas, que terão de mudar já para o próximo jogo.
A QUEDA FÍSICA NOTA-SE MAIS NO BENFICA
DO QUE EM EQUIPAS COMO TONDELA OU PORTIMONENSE
DEPOIS DE MEIA PARTE INTENSA, SEMPRE A CAIR SOBRE A BOLA, NA SEGUNDA METADE O BENFICA DESAPARECEU MAIS RÁPIDO DO JOGO DO QUE O SOL. TODOS VIMOS ISSO. TODOS, MENOS BRUNO LAGE...