Weigl e o Seixal
NÃO É DESCABIDO PENSAR QUE FLORENTINO TAMBÉM PUDESSE TER A GANHAR COM A SAÍDA PARA ONDE POSSA JOGAR E MEDRAR. E ISSO NÃO TEM DE SER VISTO COMO A NEGAÇÃO DA APOSTA NA FORMAÇÃO…
O BENFICA ATACOU O MERCADO ‘GOURMET’ EM QUE SÓ NEGOCEIAM OS ABASTADOS
Benfica de Bruno Lage continua a colecionar registos domésticos históricos. O triunfo sofrido e espinhoso sobre o Aves foi o 13.º consecutivo na Liga portuguesa, o melhor ciclo vitorioso do clube neste século. E nunca um técnico conquistara tão depressa 100 pontos (35 jogos). Mas nem a conjuntura próspera parece refrear a vontade de investir no reforço da equipa, o que tem de ser relacionado com o raro desafogo financeiro que emana da Luz e, claro, com o desejo de ser mesmo competitivo na Liga Europa.
É nesta perspetiva que devem
entender-se a contratação do médio alemão Weigl e as negociações relativas ao brasileiro Bruno Guimarães, porque a eventual chegada de um avançado (ontem foi notícia o interesse no dominicano Mariano Díaz, do Real Madrid) será sempre vista como o preenchimento da vaga deixada em aberto por Raul de Tomas.
Esta postura ousada no reforço
do plantel (o Benfica atacou o mercado ‘gourmet’ em que só negoceiam os abastados) contrasta com aquele que tem sido o discurso dos seus responsáveis. Não é caso para dizer que se tratou de uma fabulação todo o discurso
em torno da aposta na formação do Seixal, mas saltam à vista algumas incongruências. Reveja-se, por exemplo, o que Luís Filipe Vieira dizia a meio de junho passado, numa entrevista à Renascença: “No meio-campo acho que o Benfica não tem necessidade de comprar jogadores. Mas o Benfica não tem pontas-de-lança, é verdade. É importante dar aos nossos treinadores aquilo que eles precisam, se nos mostrarem que o que temos não tem essa competência. A grande maioria dos jovens que estão no Seixal têm competência para estar na primeira equipa do Benfica.” Nesta perspetiva, o Benfica deveria estar agora a arriscar o lançamento dos médios David Tavares (20 anos) e Tiago Dantas (19), que cintilam na equipa B.
Ao contrário do que dirão os seus
rivais e/ou opositores, não creio que o discurso do presidente do Benfica possa ser visto como um embuste deliberado que não tardou a ser destapado. No máximo,
tratou-se de uma declaração otimista, uma vez que a aposta na formação (com tudo o que isso significa em termos de reforços das suas estruturas e dos seus quadros) é o único caminho sensato no futebol nativo. Mas esta desarmonia entre o que foi dito e o que foi feito não deixa de ser um ensinamento para um líder que, entretanto, deve ter apreendido que os jogadores não têm todos as mesmas fases de maturação e que, no futebol, todos somos discípulos e mestres uns dos outros…
Os 20 milhões investidos na con
tratação de Weigl e as notícias que dão como quase certa a chegada, em fevereiro, de Bruno Guimarães (que irá custar ainda mais do que o alemão) coincidem com o empréstimo de Gedson ao Tottenham. Mais do que discutir a bondade de uma cedência, que assegura já 4,5 milhões de euros, mas está longe de garantir o encaixe dos 50 milhões previstos na cláusula não obrigatória, importa perceber o ‘leitmotiv’ do negócio. Que terá a ver com as legítimas aspirações de um jovem que prometeu muito, mas que parecia estagnar no seu desenvolvimento, até por ser utilizado em posições que não o valorizam. Mas o motivo principal tem de estar relacionado com o facto de Lage entender que Gedson não era essencial no(s) desenho(s) e no modelo de jogo que treina. E isso remete-nos também para a atual situação de Florentino, outra aposta do Seixal que prometeu muito e cujo rendimento se foi eclipsando pouco a pouco. Claro que ninguém pode ser definitivo sobre um jovem de 20 anos, mas há alguns dados a reter: a melhoria exibicional do Benfica ocorreu quando Lage arriscou um meio-campo formado por Gabriel e Taarabt. E o recém-chegado Weigl reclama um parceiro mais dado ao jogo associativo do que oferecem as características de Florentino.
O futuro deste estará, provavelmente,
relacionado com as soluções que possam vir a ser encontradas para as eventuais saídas de Fejsa e Samaris, que parecem fazer já mais parte do passado do que do futuro do Benfica. Mas não é descabido pensar que Florentino também pudesse ter a ganhar com a mudança para um clube onde pudesse jogar com regularidade e medrar. E isso não tem de ser visto como a negação do Seixal…