Record (Portugal)

“Acabei por sair do Chelsea pela porta dos fundos”

-

– Achaste que ias jogar para sempre no Chelsea?

FL – Nunca pensei que deixaria o Chelsea para jogar noutro clube inglês. Mas foi fantástico ter estado no City. É um grande clube, com adeptos que passaram por um mau bocado, como os do Chelsea. O clube tem uma estrutura fantástica e o centro de treinos é de cortar a respiração. Percebi que estava em piloto automático nos últimos anos de Chelsea. Todos os dias eram iguais. Quando cheguei ao City, senti-me como um miúdo na escola e tinha 36 anos! Não sabia a quem dizer olá. Foi bom para me testar.

OD – Não era para jogares no City, era suposto só treinares...

FL – O Chelsea disse-me que não me iria dar um novo contrato, o que foi uma desilusão, para não dizer outra coisa. Não queria necessaria­mente uma grande despedida, mas gostaria de ter tido a oportunida­de de escolher. Acabei por sair mais ou menos pela porta dos fundos. Encontrei-me com pessoas do New York City, que pertence ao City Football Group, mas a temporada deles só começaria daí a seis meses. Fui com a Christine de férias e depois fomos para Nova Iorque.

No dia em que assinei pelo New York City, recebi um telefonema a dizer: ‘Manuel Pellegrini [então treinador do City] quer falar contigo, para que fiques no City durante quatro meses antes de ires para Nova Iorque’. Não sabia o que fazer. Telefonei ao meu pai e ele disse-me: ‘Filho, eles são os campeões da Premier League e querem-te com 36 anos. O que fizeste no Chelsea é passado e não vai mudar nada’. Tinha razão. Foi um bom sentimento sentir-me desejado. Encontrei-me com Pellegrini, ele mostrou-me a ideia que tinha e aceitei ir para o City. Tive de cancelar as férias! Joguei bastante bem. O City quis que eu ficasse o resto da época e eu sabia que iria haver críticas em Nova Iorque, mas não podia rejeitar. tranho e, na verdade, perfeito, porque empatámos e os adeptos do Chelsea foram incríveis.

OD – Deram-te uma grande receção, não deram?

FL – Massiva. O Chelsea acabou por ganhar a liga, pelo que não afetei nada negativame­nte. Preferia ter tido uma saída mais positiva do Chelsea, mas superei isso.

OD – Foi o José [Mourinho] que te disse?

FL – Sim, puxou-me à parte e disse-me: ‘O clube não te vai dar um novo contrato’. Ele queria lutar por mim, mas não achei que fosse o mais correto. Não deve ter sido fácil para ele porque éramos muito próximos.

OD – Tens alguma mágoa em relação à carreira de futebolist­a?

FL – Nunca ter tido um grande torneio por Inglaterra. Poderia ter jogado melhor pela seleção. Prefiro não falar sobre mágoas ou isto não pára. Devíamos ter ganho mais campeonato­s no Chelsea. E podemos continuar…

OD – Não te divertiste a jogar por Inglaterra?

FL - É complicado. Lembro-me de quando o Hernán Crespo estava no Chelsea há muitos anos e sempre que a Argentina jogava ele ficava impaciente por voltar para casa e jogar. Os jogadores da Argentina estão por todo o Mundo e anseiam pelo seu país, por isso quando voltam a casa existe aquele sentimento realmente positivo, patriótico. Ao invés, a maior parte dos jogadores ingleses jogam em Inglaterra e defrontam-se quase todas as semanas...

OD – Ao veres a atual seleção sentes alguma inveja?

FL - Faz-nos certamente considerar onde poderemos ter errado ligeiramen­te. No meu curso para tirar a licença profission­al conversámo­s sobre o brilhante trabalho de Gareth Southgate [selecionad­or inglês], como todos os jogadores trabalham juntos e como ele está a fazer crescer os mais jovens. Quando jogava pela seleção, não havia qualquer filosofia de Inglaterra. Joguei por Capello, um italiano, e por Eriksson, um sueco. Sei que é um clichê, mas acho que o Gareth sente realmente aquilo. Além disso, as seleções alemãs, espanholas e francesas daquele tempo estavam muito à nossa frente. Agora já não.

“MOURINHO QUERIA LUTAR POR MIM, MAS NÃO ACHEI QUE FOSSE O MAIS CORRETO. NÃO DEVE TER SIDO FÁCIL PARA ELE”

OD – É verdade que não viste os jogos da seleção inglesa durante alguns anos?

FL - É verdade. Ficava aborrecido. Quando jogava na MLS, retirei-me da seleção e só vi as grandes competiçõe­s. Agora vejo novamente todos os jogos!

FL - Pelo menos isso acabou por forçar a FIFA a introduzir a tecnologia da linha de golo! A nível pessoal, acabei por aceitar aquilo. Quando aconteceu, fiquei com muita raiva e frustrado porque aquilo teria mudado o jogo. Essa é a principal pergunta que me fazem quando viajo pelo Mundo. O golo que nunca marquei em oposição a todos aqueles que marquei. Mas nunca marquei num Mundial, o que é uma pena.

OD – Quão difícil foi jogar num Campeonato do Mundo?

FL - Foi muito duro. Não gosto de estar longe de casa durante muito tempo. Estar na África do Sul em 2010 foi difícil. Deveria ter sido divertido, mas não foi.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal