As regras do FC Porto
PASSARAM 30 ANOS, O MUNDO MUDOU RADICALMENTE, MAS NÃO OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O BALNEÁRIO DOS DRAGÕES. ÉDER MILITÃO QUE O DIGA...
presidente, sempre suavemente, quando ele via que eu estava abusar. Quando isto acontecia, portava-me bem durante algum tempo e voltava às festas.
Depois de um susto que apanhei na minha segunda época, as fes- tas em minha casa acabaram para sempre. Aqui faço um pequeno resumo deste episódio, que conto no meu livro o ‘El Portugués’.
Quando chegava atrasado ao treino, as minhas desculpas eram Para que o Atlético Madrid pudesse inscrever Morata, neste mercado de inverno, tinha de sair um dos jogadores do plantel colchonero. Um dos elementos confrontado com este cenário foi o Gelson Martins. O jovem português não teve a vida fácil. Praticamente não foi opção e, assim sendo, não teve possibilidade sempre as mesmas , ou que tinha apanhado trânsito, ou que o despertador não tinha tocado. O míster Artur Jorge dava-me umas broncas tremendas: “Sei que fizeste ontem uma festa na tua casa até às tantas e não te vou convocar durante vários jogos.” Acabava sempre por perdoar-me, porque não tinha provas reais.
Outracoisaeraser visto numa discoteca. Aí não havia perdão. Nem para mim nem para ninguém do plantel. Nas últimas jornadas da época 1985/86, o Benfica estava colado a nós... Quem perdesse pontos podia morrer e cada jogo era uma final. E a nossa próxima final seria em Coimbra, frente à Académica.
Nasegunda-feira, erao meudia de folgae saí. Na terça-feira, no primeiro treino da semana, chego tarde e penso que a bronca vai ser brutal. Mas não. O Artur Jorge, tranquilamente, diz-me: “Hoje não treinas. Vai-te embora”. “Espetáculo”, pensei. Estava cheio de sono e podia ir para casa dormir.
Quarta-feira: Cheguei lá fresquinho e a horas. Levei a mesma sentença. “Vai-te embora.”
Quinta-feira: Tínhamos dois treinos. Um de manhã e outro à tarde. Fui afastado de ambos. E aí comecei a ficar seriamente preocupado.
Sexta-feira: Dia em que ficávamos a saber a convocatória. Mais uma vez fui impedido de me treinar na parte da manhã e nem sequer pude fazer os banhos e massagens, da parte da tarde. Estava de rastos animicamente, porque pensava que não ia ser convocado. Saiu a convocatória e foi um alívio. O meu nome estava lá!
Sábado: O último treino antes jogo e eu de fora... No hotel, já em Coimbra, os meus colegas começaram com as apostas. “O Paulo vai jogar ou o Paulo não vai jogar...”
Domingo: Dia do jogo. Artur Jorge dá o onze e eu com o coração quase a saltar do peito. Dá a equipa toda e o último nome foi... “Futre”. Respirei. Abri o livro, vencemos o jogo, mas não ganhei para o susto e, no dia seguinte, comprei mais dois despertadores para nunca mais chegar tarde.
Nos seguintes 14 ou 15 meses que estive no FC Porto, se cheguei alguma vez atrasado ao treino, foi mesmo pelo trânsito e não pelas festas. A partir daquele dia, nunca mais levei broncas, ameaças e sustos do Artur Jorge por aquele motivo.
Já passaram mais de 30 anos, o Mundo mudou radicalmente e vai continuar a mudar, mas as regras do FC Porto nunca mudarão. Estão na base do êxito deste enorme clube. Hoje, vivo com algumas dúvidas: Quando voltará a jogar o Militão? No próximo jogo, frente ao Sp. Braga? No seguinte, com o Benfica? Talvez só com a Roma? Ou o castigo durará mais tempo? Estas serão também as dúvidas e as preocupações que o brasileiro tem na cabeça. O Militão vai estar meses, ou talvez anos, até voltar a a uma discoteca...
NÓS LÁ FORA