Record (Portugal)

Clássico decisivo para o Sporting

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o Texto escrito na antiga ortografia

SÓ QUEM NÃO ESTÁ HABITUADO A ANDAR LÁ EM CIMA É QUE VACILA QUANDO SENTE PRESSÃO É UM CHOQUE DE TITÃS EM QUE O SPORTING, SE NÃO GANHAR, PODE DIZER ADEUS AO TÍTULO QUE A MELHOR MASSA ASSOCIATIV­A DO MUNDO MERECE HÁ MUITO TEMPO

Há algo essencial antes de qualquer embate, sobretudo num clássico. O estado moral das tropas. O Porto lidera a tabela e tem oito pontos de vantagem sobre o adversário. Vem a Alvalade tranquilo pois tem a certeza de que, mesmo em caso de derrota, continuará a olhar todos os outros de posição cimeira. Soma-se a este facto a fase de vitórias sucessivas, que é recorde, e uma união de aço do grupo de trabalho reforçada com o discurso vibrante e de enorme empatia com os portistas, que confiam plenamente no sangue e alma de campeão de Sérgio Conceição. O Sporting, depois do excepciona­larranque de MarcelKeiz­er, dos melhores de sempre da história do clube, benzido com muitos golos, futebol atractivo e dominador, ancorado num discur- so civilizado, tranquilo, positivo do holandês, sofreu um forte abalo na sua confiança após a derrota de Tondela, onde era obrigatóri­o vencer para não tornar determinan­te para esta época o confronto com o Porto. Keizer afirmou que em Março ou Abril iria ver onde podia chegar, porém, o jogo de sábado, finalmente a horas decentes, é decisivo para os leões. E não é criar pressão, pois um clube grande como o Sporting Clube de Portugal tem de conviver diariament­e com ela. Só os pequenos, os que não estão habituados a andar lá em cima, é que vacilam quando sentem pressão. Os colossos respiram-na, está no seu código genético.

Tenho amesmavisã­o de Jorge

Jesus. O principal candidato é sempre o campeão da época transacta. E o dragão não tem decepciona­do os seus adeptos, sente-se a voracidade das aves de rapina por mais um título, foi essencialm­ente esta vertigem a mentalidad­e que Sérgio Conceição trouxe de novo, após atravessar­em um deserto em que nenhum troféu entrou no museu. Um plantel forte recheado de grandes jogadores, com defesa sólida – excepciona­is Éder Militão e Alex Telles – e ainda mais segura com um homem que está aí para as curvas, central de classe mundial que tanto tem dado a Portugal, Pepe. Um 6 mais que fiável, Danilo Pereira, uma casa das máquinas de alta voltagem, um mágico que será uma enorme perda para o futebol português se decidir partir como se adivinha, Brahimi, e dois bichos poderosíss­imos no ataque, Marega e Soares. É uma armada temível, não invencível, mas que põe em sentido qualquer um.

Do outro lado, que não se iludam os sportingui­stas, a esquadra construída e deixada por Sousa Cintra e José Peseiro não tem a mesma artilharia e consistênc­ia. Um plantel desequilib­rado, dependente da classe de Bruno Fernandes e do poder de fogo de Bas Dost. O factor-surpresa de Marcel Keizer já foi identifica­do, o jogo interior é facilmente manietado, o processo defensivo é débil e os laterais são uma dor de cabeça. O Sporting, com a excepção do Vorskla Poltava, encaixou sempre golos e enquanto o holandês dizia que preferia ganhar por 3-2 do que por 10, ouviu a resposta do treinador português, em subtil ‘mind game’, que não se importava de vencer 1-0, pois “não sofrer golos é a base de uma vitória”. A máquina goleadora leonina emperrou, tal como a qualidade de jogo, trazendo um novo cepticismo à maioria dos adeptos. Nos azuis e brancos reina o optimismo. É um choque de titãs em que o Sporting, se não ganhar, pode dizer adeus já em Janeiro ao título que a melhor massa associativ­a do Mundo merece há muito tempo.

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