Record (Portugal)

C AR LOS R AMOS

- NORBERTO SANTOS

A arte da arbitragem estará de volta a Portugal em 2019 através de Carlos Ramos? É bem provável que isso aconteça, à semelhança dos dois últimos anos no Millennium Estoril Open. Aquele que é considerad­o unanimemen­te um dos melhores árbitros do Mundo está na lista de prioridade­s de João Zilhão. “Todos nós adoramos o Carlos Ramos e é muito bom revê-lo no Clube de Ténis do Estoril”, afiança o diretor do torneio, que todos os anos faz esse pedido junto do ATP, embora a decisão final seja da ITF. A partir do incidente com Serena Williams na final feminina do US Open, o mediatismo do árbitro português disparou, mas ninguém lhe aponta erros. “É corajoso e calmo”, assegura Richard Ings, antigo árbitro australian­o, sobre o colega que está a cumprir três décadas como profission­al da arbitragem. Tudo começou em jeito de brincadeir­a quando veio para Portugal bastante novo, depois de ter nascido em Moçambique, a 13 de novembro de 1971. Inscreveu-se nas aulas do Clube de Ténis do Jamor e teve como treinador Mário Azevedo Gomes, hoje presidente da Associação de Ténis de Lisboa, que lembra: “Tinha algum jeito, mas era muito calmo e muito pontual. Não era preciso puxar-lhe as orelhas. Jogou a um nível muito razoável.” José Tanqueiro, outro técnico que passou pelo CT Jamor, recorda que, nessa altura, Carlos Ramos já descortina­va o caminho que iria seguir. “Preferia saltar para cima do esca- dote para arbitrar jogos do que propriamen­te jogar. E também não faltava aos nossos jogos de futebol no Natal”, adianta Tanqueiro. Umdos dias mais felizes de Carlos Ramos, segundo contam os seus companheir­os de treino desse tempo, foi quando chegaram as raquetas Boris Becker, que estavam em voga. “O Carlos estava radiante no primeiro dia. Aquilo era um sorriso cheio de orelha a orelha”, lembra Luís Figueiredo, mais conhecido por ‘Figas’ no meio tenístico.

Muito estudioso

Na altura, ainda sem internet ou telemóveis, Carlos Ramos adorava estudar as regras do ténis. Até que decidiu frequentar o primeiro curso

de árbitros. Foi em 1987, durante o Campeonato Nacional no Jamor. O diretor do curso foi António Sequeira, um dos pioneiros da arbitragem em Portugal. “É umrapaz muito estudioso e íntegro e que escolheu a profissão certa. Ele tem a seu favor o facto de ter uma boa visão, assume decisões rápidas e certas. Como é muito calmo, os jogadores respeitam-no. Não há nada a apontar-lhe. E por alguma razão lhe chamavam o senhor 100%... não errava nos cursos!” Para a arbitragem, Carlos Ramos transporto­u tudo aquilo que teve na sua formação. “O saco que ele levava de roupa para os torneios estava sempre imaculado. Não era nada displicent­e nas pequenas coisas, ao contrário de nós, que preferíamo­s Não se pense que os árbitros têm vida fácil. Há certas regras que têm se ser cumpridas. Não podem beber álcool até 12 horas antes dos encontros, têm de entrar no quarto até às 23 horas e são obrigados a fazer exames à vista anualmente. Para Carlos Ramos foi fácil aceitá-las. Mas o português, que já dirigiu finais dos quatro torneios do Grand Slam, até foi mais longe. “O ano passado o grupo do Clube de Ténis do Jamor foi jantar fora e ele pediu um hambúrguer de soja...”, recorda Luís Figueiredo, salientand­o as preocupaçõ­es do amigo com o físico, fazendo trabalho no ginásio.

Em miúdo já arbitrava jogos no Clube de Ténis do Jamor e cedo se afirmou a nível mundial

andar nas brincadeir­as”, assegura o amigo Luís Figueiredo.

Ida para Lyon

Marta André lembra-se que a progressão de Carlos Ramos foi bastante rápida. “Em 1991 fez o primeiro curso em Espanha e teve logo o Bronze Badge. Depois foi sempre a subir. Nunca o vi entrar em stress. É uma joia de rapaz”, confessa a sua antiga parceira de treinos e coordenado­ra dos apanha-bolas no Jamor e CT Estoril nos grandes torneios. Durante uma edição do Estoril Open, Carlos Ramos conheceu aquela que viria a ser a sua mulher e mãe dos dois filhos. Florence era hospedeira de uma marca de relógios suíça e veio até ao nosso país. E o namoro deu em casamento. Em 1996 foi viver para Lyon, em França. Esteve desligado do ténis algum tempo (trabalhou na Decathlon), mas rapidament­e regressou à cadeira. “O Carlos Ramos não tem medo de enfrentar os craques e é uma pessoa isenta. Se o jogador errou, tem de ser penalizado. E faz isso seja o Federer, o Nadal, o Djokovic ou a Serena”, salienta João Zilhão. *

“NÃO TEM MEDO DE ENFRENTAR OS CRAQUES E É UMA PESSOA ISENTA”, GARANTE JOÃO ZILHÃO, DIRETOR DO ESTORIL OPEN

 ??  ?? GRUPO DO JAMOR. Pedro Sousa, Carlos Ramos, Luís Figueiredo e Mário Mendes juntos para recordar os tempos em que jogaram no Clube de Ténis do Jamor enquanto adolescent­es
GRUPO DO JAMOR. Pedro Sousa, Carlos Ramos, Luís Figueiredo e Mário Mendes juntos para recordar os tempos em que jogaram no Clube de Ténis do Jamor enquanto adolescent­es
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal