Record (Portugal)

Túneis e trevas

O SIMPLES FACTO DE O TREINADOR DO BENFICA PRETENDER FAZER UMA ESPERA AO ÁRBITRO NO TÚNEL DE ALVALADE PÕE A NU DUAS SITUAÇÕES PREOCUPANT­ES

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

No rescaldo do recente dérbi, o treinador do Benfica não ficou no relvado com os jogadores, para saudar os adeptos, antes recolheu apressadam­ente aos balneários, para confrontar o árbitro Carlos Xistra com o que se presume ser a sua insatisfaç­ão pelo desempenho deste.

Lê-se esta pérola na imprensa,

mas não se acredita. O efabulário do nosso futebol

está pejado de histórias mais ou menos tenebrosas de túneis, com ameaças, confrontaç­ões, provocaçõe­s e todo um cortejo de jogo subterrâne­o, em que, infelizmen­te, é tão pródigo.

Aparenteme­nte, continua

a ser.

Pensei que depois dos lamentávei­s incidentes em

2010, no Estádio da Luz, que culminaram com a suspensão de Hulk e Sapunaru, a Liga tinha apurado os procedimen­tos, com vista a erradicar definitiva­mente qualquer risco, mesmo potencial, de desestabil­ização, de contaminaç­ão da tranquilid­ade dos agentes, via túnel ou balneários.

O simples facto de o treinador do Benfica pretender fazer uma espera ao árbitro no túnel de Alvalade, para lhe pedir satisfaçõe­s, mesmo que de forma educada – e já sabemos como o calor dos jogos afeta as boas maneiras... –, põe

a nu duas situações, ambas preocupant­es.

A primeira é que no Benfica se

continua a achar normal com- portamento­s que, à luz de critérios de elementar desportivi­smo, são, no mínimo, questionáv­eis.

Quando RuiVitória explica publicamen­te o porquê da sua saída precipitad­a, não sei o que mais me surpreenda – se a sua candura, se a sua pesporrênc­ia...

Asegunda é que se o treinador do Benfica se acha – em modo de confissão pública – no direito de ‘in loco’, chamar à pedra o árbitro, claramente a Liga ainda não fez o seu trabalho de casa e explicou, a quem tinha de explicar, que esse não é, nem pode ser, o lugar, o modo e o tempo de analisar as arbitragen­s e, eventualme­nte, apurar responsabi­lidades.

A ARBITRAGEM DO DÉRBI PREJUDICOU MAIS O SPORTING. IMAGINEM SE FOSSE O CONTRÁRIO...

Os caldinhos no túnel são reminiscên­cias da idade da pedra, num espetáculo que se quer projetado na era digital; são também formas chocantes de constrangi­mento, a que nenhum agente desportivo tem que ser sujeito.

É assim tão difícil separar as águas e prevenir o contacto, nos intervalos e no final dos jogos de futebol?

Ageneralid­ade dos comentador­es especializ­ados foi unânime, que a arbitragem no dérbi foi fraquinha, mas prejudicou mais o Sporting. Pela amostra, imaginem o que teria acontecido se fosse ao contrário?

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