Quem cede na reta final?
O FC PORTO FOI, ATÉ AGORA, A MELHOR EQUIPA DA LIGA. FOI-O DE FORMA TÃO INDUBITÁVEL QUE A VANTAGEM ATÉ PARECE CURTA. MAS O BENFICA TEM RAÇA E UM JONAS CAPAZ DE DAR A VOLTA A QUALQUER SITUAÇÃO. E TEM UM CALENDÁRIO MAIS FAVORÁVEL
Os mais desmemoriados provavelmente já não terão essa imagem suficientemente presente, mas quando se olha para o FC Porto não se deve nunca menosprezar o facto de a equipa portista ter começado a época com o estatuto de outsider, um anglicismo que muitas vezes se usa no futebol mais por rotina e condescendência do que por autêntica convicção. Era candidato, sim senhor, mas inferia-se que o seu favoritismo era quase marginal. Ou seja, demasiado escasso para poder competir com um Benfica glorificado com o seu primeiro tetracampeonato e empurrado por uma inestimável dinâmica de vitória. Ou com um Sporting que voltava a ser o campeão das contratações, da cobiça e até da parlapatice. Exatamente o contrário do que acontecia num Dragão tão amorrinhado e ameaçado de insolvência que foi obrigado a ir à arrecadação poeirenta recuperar os talheres enferrujados e as chávenas gretadas, por não haver quaisquer hipóteses de manter a baixela e a prataria de outros tempos. Mas, como tantas vezes acontece no futebol, a simples circunstância de uma equipa ser desconsiderada pode torná-la num adversário ainda mais perigoso e arrebatado.
Jámuitofoiditosobre osméritos deSérgioConceição e o principal até é capaz de ter sido a capacidade Namaior parte dos jogos, o FC Porto não ganha: atropelaos adversários, tirando partido da dimensão físicados seus avançados e daqualidade de Soares
O BENFICA SÓ JOGARÁ FORA QUATRO VEZES E UMA NO NORTE
de formatar a equipa à sua imagem, num misto de rebeldia, intrepidez e combatividade. É também à custa disso que entra esbaforido nos jogos e marcou 13 golos nos últimos 225 minutos da liga. Mas essa é apenas a face mais evidente de uma equipa bem treinada e claramente desenhada para consumo interno (embora tenha acabado por ganhar variantes que a tornaram competitiva na Europa, exceção feita ao último duelo com o Liverpool, em que pagou caro a tentativa de jogar demasiado na expectativa). Mas Conceição teve outros méritos. Há várias maneiras de um técnico se fazer entender e ser claro é a mais eficaz. Foi isso que fez quando meteu Soares na linha, quando convenceu Brahimi a não ser apenas o rei dos dribles ou quando resolveu, sem drama e com inteiro sucesso, as lesões de Soares, Marcano, Danilo, Aboubakar e Ricardo.
E a verdade é que, se formos minimamente neutrais e justos no julgamento, teremos de concor-
dar que o FC Porto foi, até aqui, a melhor equipa da liga. E tem-no sido de forma tão indubitável que, provavelmente, a vantagem sobre a sua concorrência mais direta até peca por escassa. E isso é ainda mais relevante numa prova em que os portistas nem sequer podem ser acusados de ter beneficiado dos favores da arbitragem (o que não significa que também compremos a tese contrária, incluindo a relação infindável de penáltis imaginários que a comunicação portista nos tenta vender).
Claro que só agora entramos no último terço da liga, pelo que há ainda margem razoável para uma transfiguração radical da conjuntura atual. Que até pode começar já na próxima sexta-feira, quando o FC Porto receber o Sporting. E se é verdade que a cabriola completa que os portistas conseguiram no Estoril, na passada quarta-feira, pode ter sido um dos momentos mais determinantes da época, o próximo clássico no Dragão não o deverá ser menos. Uma eventual vitória do FC Porto não teria apenas o condão de desenganar definitivamente o Sporting: o título estaria ali à mão de semear. E só não arriscamos dizer que ficaria quase definido porque o Benfica mostrou em Paços de Ferreira que tem poder de fogo na frente (quem tem Jonas está sempre mais próximo de dar a volta ao resultado) e uma raça indómita, bem patente na forma como festejou o segundo golo. Tão ou mais importante, a sua ponta final de calendário parece mais favorável do que a do FC Porto. Desde logo porque recebe os portistas na 30ª jornada (por outro lado, terá de jogar em Alvalade), mas também porque tem seis jogos na Luz (Marítimo, Aves, V. Guimarães, FC Porto, Tondela e Moreirense) e apenas quatro no campo do adversário (Feirense, V. Setúbal, Estoril e Sporting). Só tem mais uma viagem ao norte do país (Feira) e todos os restantes jogos envolvem viagens curtíssimas. O FC Porto terá tanto jogos no Dragão (Sporting, Boavista, Aves, V. Setúbal e Feirense) como fora de portas (P. Ferreira, Belenenses, Benfica, Marítimo e V. Guimarães), sendo que algumas das saídas são de grau de dificuldade elevado. O cenário apresenta-se bem mais trabalhoso para um Sporting que só jogará mais quatro vezes em Alvalade (Rio Ave, P. Ferreira, Boavista e Benfica) e que terá de ser muito competente em várias das seis deslocações agendadas (FC Porto, Chaves – estas já nas duas próximas jornadas –, Braga, Belenenses, Portimonense e Marítimo).