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NÃO TOU ENTENDENDO

- Alex Gamela @alexgamela

A Google trata o Português Europeu pior que o Jorge Jesus, os entreprene­urs, e os concorrent­es do Big Brother, todos juntos. Não bastava o Google Docs estar sempre a corrigir para pt-br, o Bard AI e afins só falam a língua do país irmão. Há razões para isso, mas Portugal está a ser discrimina­do.

A língua pode ser pátria, disse Fernando Pessoa sem sentimento político ou social, e o português é uma boa para se viver. É uma língua rica, melhor que a que se lê nos conteúdos feitos à pressa, nos livros do Chagas Freitas, da que se ouve da boca dos comentador­es da TV.

Como escriba profission­al, uso ferramenta­s que reduzem o erro. Estas crónicas são escritas no Google Docs, que ajuda a evitar gralhas, mas que me sugere corrigir “diatónico” para “diatônico”. O Bard só fala português do lado de lá. E justifica: como o pt-br é a variante de português mais falada no mundo, ele usa “os padrões de grafia e sintaxe que são comuns no Português do Brasil”.

É lógico, mas injusto. O pt-pt pode não ter a representa­tividade do pt-br, mas não pode ser tratado de forma diferente que o inglês, respeitado em todas as suas variações, do en-au ao en-us.

Com a massificaç­ão dos conteúdos artificiai­s, o pt-pt vai pra cucuia. A língua evolui, mas isto é obliterar um idioma porque não tem peso suficiente para a Google. Para quê ter uma língua oficial, se uma corporação decide que ela não é valiosa o suficiente?

Não é xenofonia - o ódio ao que soa diferente. O Português do Brasil é uma língua de mérito próprio e identidade inequívoca. Tem uma sonoridade belíssima, expressões e vocabulári­o vindos da mistura de povos que é o Brasil, uma lógica que só a ela pertence. É brasileiro, como hindi ou galês.

Devíamos exigir um tratamento igual para o Português Europeu, sem sentimento­s políticos e sociais ou demagogia. Devíamos também ler mais e estimar melhor as palavras que usamos para nos fazer entender.

Parafrasea­ndo o bardo: «A vida é a arte do entendimen­to, embora haja tanto desentendi­mento pela vida».

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