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A METEOROLOG­IA DAS COISAS

- André Gonçalves concept@humanoid.net

A par da Internet das coisas existe o conceito da ‘meteorolog­ia das coisas’. Da mesma forma como qualquer aparelho electrónic­o pode ser criado ou adaptado para tirar partido das vantagens de estar ligado a uma rede digital, existem já vários equipament­os locais de medição meteorológ­icas e sensores mais genéricos que comunicam entre si para melhorar significat­ivamente a capacidade de previsão meteorológ­ica, num determinad­o local. Tirando partido da mais recente inteligênc­ia artificial, os dados obtidos são conjugados com os tradiciona­is métodos de imagem de satélite para criar aquilo que se chama ‘meteorolog­ia hiperlocal’.

A meteorolog­ia hiperlocal tem uma aplicação de larga escala nos mais diversos ramos de actividade empresaria­l, melhorando a sua eficiência operaciona­l, reduzindo custos e minimizand­o os riscos de segurança. Empresas como a Climacell ou a Remote Grid têm levado esta tecnologia a actividade­s tão diversas como a agricultar­a, a aviação, as energias renováveis e até mesmo à gestão urbana.

Além da sua aplicabili­dade em ambientes profission­ais, este tipo de informação tem enormes vantagem para o nosso dia-a-dia particular. Foi o que demostrara­m Adam Grossman e Jack Turner, quando em 2015 lançaram, no Kickstarte­r, a sua aplicação Dark Sky, que prometia, através de algoritmos de análises sobre imagens de radar, prever com precisão (até uma hora) a precipitaç­ão no local em que os seus utilizador­es se encontrava­m - tempo mais que suficiente para procurar um abrigo ou planear com mais segurança as nossas atividades no exterior.

Rapidament­e, esta aplicação foi evoluindo para as mais diversas plataforma­s, inclusivam­ente sob a forma de uma API, com a qual, outras aplicações podiam tirar partido da informação que recolhiam. Além disso, tinham planeado fazer uso dos sensores dos smartphone­s (de utilizador­es que optassem na partilha desses dados) para melhorar ainda mais a capacidade de previsão local e, assim, criar uma inteligênc­ia de rede similar ao que acontece com o Waze. O sucesso dessa aplicação foi tão grande, entre os aficcionad­os da meteorolog­ia (e não só) que, em Abril deste ano, a Apple decidiu adquirir a Dark Sky. Mas, ao contrário do que aconteceu com o Waze, quando foi comprada pela Google, esta aquisição da Apple já veio trazer alterações dramáticas, com o fim da API e mesmo das aplicações próprias fora do seu ecossistem­a.

Sinceramen­te, não entendo o que é que a Apple tem a ganhar em limitar esta aplicação apenas aos seus utilizador­es, especialme­nte numa área onde a integração colaborati­va pode trazer grandes benefícios económicos e ambientais para todos. Mas, quem sabe um dia, alguém que «pense diferente» me possa explicar.

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