NEUROESTIMULADOR ABRE UM NOVO MUNDO PARA CONTROLAR A EPILEPSIA
Volta e meia, lemos notícias de que Portugal é o primeiro país do mundo a aplicar uma novidade tecnológica ou a ser pioneiro num tratamento revolucionário.
Aqui fica mais um desses exemplos: o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) foi o responsável pelo primeiro implante mundial de um «neuroestimulador com monitorização de longo termo num doente epilético». Este dispositivo, que foi aprovado para uso em humanos, na Europa, em Janeiro deste ano, é capaz de «gerar estímulos e efetuar a leitura do sinal cerebral nas zonas profundas do cérebro» e vai permitir «estudar novas abordagens para a terapia por estimulação adaptativa nesta doença neurológica», diz João Paulo Cunha, coordenador do Centro de Investigação em Engenharia Biomédica do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), uma das entidades que participou neste projecto. A capacidades deste neuroestimulador permitem ainda medir os «movimentos induzidos por eventos epiléticos em 3D», uma tecnologia que também foi desenvolvida em Portugal precisamente no INESC TEC; a isto junta-se ainda a possibilidade de, através da medição da actividade eléctrica do cérebro, ser possível aos investigadores e médicos «detectar, ou até prever, a ocorrência de crises epiléticas», explica João Paulo Cunha. O implante deste dispositivo pioneiro no cérebro de um paciente abre um novo mundo na luta para controlar a epilepsia, uma vez que este investigador reconhece que, a partir de agora, será possível avançar para «novas abordagens de estimulação adaptativa ou reactiva» assim como ter uma nova luz sobre o campo da estimulação cerebral profunda. Até agora, esta terapia estava a ser feita de forma «cega», ou seja, sem que os médicos conseguissem perceber porque é que apenas 15% dos doentes deixavam de ter crises epiléticas depois de passarem por este procedimento. «Na verdade, não existe um entendimento do modo de ação da estimulação nos circuitos neuronais dos doentes e, por isso, é necessária muita investigação, que pode ser realizada, por exemplo, através desta nova tecnologia de neuroestimulação», diz João Paulo Cunha. Pode ser que esta seja também uma nova forma de estimular mais ideias no combate e controlo a uma doença que afecta entre quarenta a setenta mil portugueses.