Redefinir o Dantes
Quando este texto estiver impresso, o iPhone terá cumprido dez anos de carreira. Poupo-vos upo-vos o ‘blá blá’ técnico de quem revolucionou o quê quê, para me ocupar do que mudámos nós com o forte impulso da mobilidade acrescida. Aquilo que alguns acharam risível na data, o conceito de uma ‘máquina de Internet’ no bolso, é hoje um dado tão adquirido pelo âmago social que duvido que alguém aceitasse um cenário virtual de retrocesso. Dez anos depois (e, nalguns casos, bem menos), o iPhone criou verdadeiros standards. E não falo de botões verdes ou com envelopes. Falo de standards sociais. Onde estaria o Whatsapp? Ou o Twitter? Onde estariam os nossos adolescentes a trocar mensagens? O iPhone fez da sociedade de produção uma sociedade mais produtiva. Deu-nos poder efectivo de consulta, mas também de decisão. Há dez anos a ideia de sobreviver online com um telefone apenas era uma verdadeira anedota, hoje consultamos, editamos, decidimos com um deles. Já o disse e vou repetir: nem a concorrência estaria onde está hoje se não tivesse havido um produto chamado iPhone. Durante mais de metade de uma década, o iPhone reinou incontestavelmente sobre os seus rivais. Mesmo com outros fabricantes a subir a curva de vendas, a Apple e o iPhone cavalgaram ondas de sucesso comercial. Mesmo com um sistema operativo muitas vezes injustamente designado de «demasiado restritivo», mesmo com tamanhos de ecrã claramente abaixo do que se produzia noutras marcas, ou com versões de iOS que levaram o seu tempo a amadurecer, ninguém viu as vendas cair significativamente. Foram os últimos dois anos a parar a ascensão contínua. Outros produtos (com outros preços), outros fabricantes orientais a entrar numa corrida que levanta imensas questões industriais e até legais, mostraram o primeiro abrandamento. Melhor do que ninguém, Cupertino saberá o que tem de acontecer para que tudo volte a ser como dantes. Para que continuemos ligados como nunca, para que a sociedade refine cada vez mais a maneira como trabalha, comunica ou joga. Lembram-se como era dantes? Dantes foi só há dez anos.
Já o disse e vou repetir: nem a concorrência estaria onde está hoje se não tivesse havido um produto chamado iPhone.