Portugalidade também é Futebol
Aagenda política tem sido marcada por um tema que, por si só, seria irrelevante, apenas ganha espaço em razão de quem o lançou, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Com uma intervenção inusitada, questionou Portugal sobre eventuais responsabilidades perante as ex-províncias ultramarinas, responsabilidades que constituiriam razão suficiente para apurar eventuais indemnizações. Com propósito ou por inabilidade, difícil de aceitar, lançou um estigma sobre a história ultramarina de Portugal. Uma espécie de culpa colectiva que a todos obriga à respectiva expiação.
Se assim fosse, Portugal seria visto com rancor, ressentimento e até desdém, pelas províncias que hoje são Estados soberanos e falam português. Mas a evidência não nos mostra isso, muitas vezes mostra o contrário, mostra nostalgia, saudade ou, em alguns casos, um sentido de pertença que nunca foi quebrado.
A mais de 7 000 quilómetros de distância, a alegria, o entusiasmo, a paixão dos adeptos foi a mesma que em Portugal
É o caso do Futebol. Ver, ouvir e sentir as comemorações que foram feitas, na ilha de Moçambique, pela ocasião da conquista do campeonato pelo Sporting, é emocionante, não pode deixar ninguém indiferente. A mais de 7 000 quilómetros de distância, a alegria, o entusiasmo, a paixão dos adeptos foi a mesma que em Portugal.
É apenas um exemplo, porque o mesmo se passou em Angola, Cabo Verde ou Timor. Agora Estados soberanos, mas onde, ainda hoje, as picardias nos cafés continuam a ser entre os adeptos dos três grandes. Onde se cantam os cânticos dos clubes portugueses com tanta ou mais garra que no território nacional. Esta, é uma evidência que Portugal também deixou boas memórias. A descolonização não quebrou os laços futebolísticos, foram passando de geração em geração, como um património, como um valor, como uma identidade. Mais, se a história fosse um eterno ajuste de contas dificilmente o SL Benfica conseguiria saldar a dívida com Moçambique, não há dinheiro algum que pague o valor que Eusébio acrescentou ao Benfica, problema que o Presidente Marcelo não antecipou. Felizmente não é assim, a história foi comum e no futebol continua a ser, vibrando em conjunto, festejando em conjunto, vivendo em harmonia.