O Jogo

IMPOSTOS, BOATOS E BATALHAS

Lourosa vibra com aproximaçã­o à Liga 2 e, com adeptos ferozmente devotos, aspira superar o rival concelhio Feirense. Memórias do lourosense Tibi e do feirense José Augusto

- PEDRO CADIMA

Lourosa à espreita da glória e de uma velha disputa. Subida inédita aos nacionais está próxima e o clube pode agarrar o Feirense na Liga 2. Não se defrontam no mesmo campeonato desde 1984/85.

Bem lançado para subir aos campeonato­s profission­ais, o Lourosa lidera o apuramento de campeão na Liga 3, com cinco vitórias e um empate e um conforto de cinco pontosp ara BragaBe Alverca. De uma localidade de brutal fervor bairrista emana uma esperança que vai ganhando inflamada projeção sonora e um piscar de olhos a um feito histórico. As bancadas fervem, frequentem­ente com 5000 espetadore­s, e mais escaldante­s vão estar nestas rondas finais. O projeto do Lourosa leva anos com este fim, embora com tropeções pelo meio, até uma descida ao CdP, trajeto que, agora, está perto de ser recompensa­do coma segunda promoção consecutiv­a, podendoJor­ginho firmar ainda mais a faceta de ‘spec ia lone’ n os leões da Feira. Eéa rivalidade como Feiren seque começa a ser reacendida, reabre-se um baú e folheiam-se histórias, mais poeirentas por anos de distanciam­ento de um velho dérbi que alimenta saudades locais desde 1984/85. São 40 anos em que Feirense e Lourosa não se enfrentam no mesmo patamar. Nessa curta distância entre a sede do concelho e uma das freguesias de maior riqueza, onde abunda o negócio da cortiça e da tinta, residem viagens difíceis, de hostilidad­e ao rubro e afrontas de poder. Apesar dos fogaceiros ainda se confrontar­em com contas pela permanênci­a, todos suspiram pelo regresso de um embate que se fez 29 vezes e com saldo favorável a quem vem de baixo.

“De facto, desde há muitos anos que assistimos a uma grande rivalidade entre Feira e Lourosa. Habituamo-nos a ouvir muitas vezes por parte dos habitantes de Lourosa, que nunca simpatizar­am com a sede de concelho, por terem de vir cá para pagar impostos. Esta rivalidade que existia na população foi transposta para o futebol sempre que as duas equipas se defrontara­m”, recorda José Augusto.

Rumor de café interfere

Este antigo médio jogou 20 anos no Feirense, entre 1975 e 1996, vivendo períodos quentes em meados dos setentas e início dos oitentas. “Enquanto jogador do Feirense, defrontei o Lourosa algumas vezes na, então, 2ª Divisão, Zona Norte. Pelo que me recordo, foram jogos que, apesar de picadinhos, decorreram com normalidad­e, sem incidentes”, explana, apanhado por uma lembrança. “Recordo um episódio ocorrido no início dos oitentas quando os dois clubes disputaram até final do campeonato a subida da 3.ª à 2.ª Divisão. Na semana que antecedeu o jogo, já nas jornadas finais comdecisão­emcimadame­sa, um adepto do Feirense, em conversa de café, onde estava um adepto do Lourosa, lançou o boato que o Feirense tinha comprado um atleta rival. Isso fez com que esse jogador não jogasse, vencemos e subimos de divisão”, rebobina, remexendo num baú de sentimento­s, emoções e algumas confusões. “Ainda não jogava nos seniores e assisti a um jogo à noite no campo do Feirense. Deu invasão de campo, de um lado adeptos do Feirense, do outro do Lourosa. Foi uma batalha campal, salvo erro, entre 1975 e 1978”, junta, folheando mais uma página e fitando uma sequela moderna.

“Se voltarem a encontrar-se num mesmo campeonato,

“Os habitantes de Lourosa nunca simpatizar­am com a sede do concelho por terem de vir cá pagar impostos”

“Um jogo, entre 1975 e 1979, deu invasão. Foi uma batalha campal entre adeptos das duas equipas”

José Augusto Antigo médio do Feirense

virá à memória essa rivalidade. Mas penso que não passa de pura rivalidade, serão apenas jogos disputados arduamente mas sem incidentes”, defende, avisando. “Para os adeptos do Lourosa, mais ferrenhos, serão jogos especiais, vencer o Feirense poderá valer um campeonato.”

Revolta pelo clube-Estado

Tibi é um guarda-redes muito involucrad­o na história do Lourosa, saiu da sua formação no final dos oitentas, foi figura da primeira equipa nos noventas, passou pelo Feirense e voltou ao berço. Não participa diretament­e em confrontos ou disputas titânicas pelo jogo e pela honra, mas cresceu conhecedor do clima de tensão. “Sou um miúdo que vê esses últimos duelos entre os clubes. Lembro dérbis que arrastavam multidões. Nas camadas jovens marcavam-me muito, pela disputa e o ambiente. Mas eu só defrontei o Feirense em particular­es. Eram jogos especiais para os adeptos, estava mais em jogo que o resultado”, contextual­iza a sua ligação.

“O Lourosa está muito focado em subir, é um projeto com anos e este ano vai acontecer. Seria ótimo encontrare­m-se, esperando que o Feirense se mantenha. O Lourosa pode crescer muito na Liga 2, tornar oproje tomais vencedor e poderão haverm ui tosdér bis carregados de paixão ”, atira, lançandoae­xpet activa esmiuçando a origem da animosidad­e.

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