Já não restam dúvidas
Oque não era impensável aconteceu: uma semana terrível, um resultado inimaginável, um outro resultado comprometedor. O que era impensável também ocorreu: um ataque hediondo contra Rodrigo Conceição, jogador do nosso plantel e contra a sua família, após a derrota copiosa frente ao Brugge, com o treinador como alvo omnipresente na cabeça dos agressores e na condenação dos adeptos. A banalidade até pode ser um crime mas a violência é intolerável, injustificável. Esta foi uma semana em que ninguém foi coagido a ter dúvidas sobre alguns erros recorrentes da equipa que Sérgio Conceição tenta reerguer dentro de um plantel com evidentes lacunas. Tudo demasiado evidente.
Apesar de claros, os sinais de desequilíbrio não faziam supor uma hecatombe em quatro atos. Depois de uma derrota injusta em Madrid, continuar em jogo na Liga dos Campeões passava por somar 3 pontos frente ao campeão belga. Essa já seria justificação bastante para que a equipa dissesse ao que vinha. Não quis, não quis muito, não foi capaz de todo. Medíocre, apática, incapaz, sentiu-se frágil e assim ficou. Sem agressividade, sem fazer faltas, cansada, banal, a ver o jogo passar, incontrolável. Pode dizer-se que “foi uma daquelas noites” em que nada saiu bem. Mas a realidade não parece assim tão simples.
Até ao jogo com o Brugge, a inconsistência defensiva não se tinha traduzido em muitos golos sofridos. O desacerto que naturalmente se desculpa, foi sendo disfarçado por belíssimas intervenções de Diogo Costa, chutado para canto. Na terça-feira, vivemos uma noite negra sem que avisos faltassem sobre a importância de ter, em sede de Liga dos Campeões, defesas laterais com maior consistência defensiva. Marcano, lento, saiu da equipa para assistirmos à “tremedeira” iniciática de duplas de centrais que Pepe não pode salvar sempre. Os reforços, sem exceções, não fazem ainda a diferença. Sem um Otávio capaz e com Pepê em várias (e abnegadas) posições durante o jogo, falta o rasgo no último terço que compense a falta de pensamento a meio-campo. O FC Porto pareceu ser uma equipa que começou a duvidar do seu esforço. E, depois, a ansiedade faz deslizar a eficácia.
Apesar do bom jogo estorilista, o FC Porto podia trazer os 3 pontos pelo que fez e criou na 2ª parte. Pouco ou nada sai bem numa fase de descrença. Agora, uma pausa competitiva de 13 dias a remoer negrume, mesmo que a equipa precise de parar, olhar-se ao espelho para reorganizar ânimo e competência. Ninguém duvida que vai tentar porque nada se perdeu. Já só não restam dúvidas.