A “toca do rato” e a “caverna do monstro”
1A época começou, o novo Benfica de Schmidt voa e de imediato deixa a sua marca na convocatória para a Seleção. É o resgate de Rafa e João Mário. Não vejo, porém, nenhuma notícia extra nestas chamadas. Pelo contrário, vejo sempre mais um enigma quando eles vão.
Se a questão João Mário pode ser enquadrada pelo percurso pouco criterioso de carreira que o levou a clubes onde, por vezes demais, pouco jogou, a questão Rafa é de entendimento mais encriptado.
Por que o Rafa não joga (ou é chamado) mais vezes à Seleção? Não vejam nesta pergunta logo uma crítica. É antes algo a que, sinceramente, não consigo futebolisticamente responder vendo os seus jogos. Haverá outra explicação, também legítima. Personalidade competitiva ou de estar no balneário, razão humana ou de inconsistência exibicional ou, no geral, de atitude por todos estes diferentes lados? Não sei.
2Esta época, com um novo treinador que não tinha qualquer vício de avaliação ou visão em relação ao seu futebol e personalidade, nem dos espaços e posição habitual em campo, saiu da faixa à qual antes pertencia como opção preferencial de origem, estilo rebelde do sistema, para passar a jogar no meio, onde moram os jogadores “mais responsáveis” por tudo o que acontece ao mesmo sistema, como uma espécie de segundo avançado do 4x4x2 (desenhem a dupla de ataque em “1x1” ). É uma posição que obriga a ser “mais jogador”, Isto é, a estar em campo mais pelo jogo (da equipa) do que pelas (suas) jogadas. Não perdeu com isso nada do que tinha de repentismo criativo desequilibrador. Até ganhou mais critério. De aceleração e pausa. Com melhor finalização. Pode, por isso, surgir na Seleção com outro estatuto. O selecionador respeitou os sinais. Agora, é com o jogador. E, quem sabe, com todos aqueles outros invisíveis. 3
Fernando Santos falou nele como um daqueles jogadores entre os 53 referenciados que há poucos meses “não existiam” e agora já o obriga a olhar para eles por passarem a fazer sentido em termos de Seleção. Este é, porém, um exemplar raro. Um ponta-de-lança geneticamente português mas com um estilo mais anglo-saxónico do que latino. É Vitinha, multidimensional pelo poder de luta/choque contra defesas e atrás das bolas mais complicadas, e pela técnica poderosamente subtil de finalização, chegando (primeiro ou mais decidido) onde outros não chegam. O golo que marcou, contra o Union Berlim, mostrou, na velocidade de adivinhar, chegar e rematar na raça (marcado em cima) com o ângulo a fechar-se, a matéria total de que é feito. Decide quase sempre bem. Para já está (e bem) na Seleção Sub-21, etapa natural de crescimento. Seria curioso lançar o debate sobre a formação quando aparece um jogador destes que sai fora de todas as “caixas de formatação” da escola do que seria o seu estilo mais natural.
De Rafa a Vitinha, o “zig-zag roda baixa” e o poder de um n.º 9 “pouco latino”