Galeno a mais
// João Henriques: “Demos uma parte de avanço” // Carvalhal: “Às vezes, é importante ganhar assim”
Só uma equipa teve clarividência num dérbi quente que acabou com três expulsões
A destilar veneno, Galeno desgastou a defesa do Vitória, metendo Zié Ouattara facilmente no bolso para antecipar o golo de Esgaio. Houve tempo, depois, para gerir a equipa e até para desperdícios
A consistência defensiva do V. Guimarães e os reflexos de Bruno Varela foram escudos relativos para o Braga. Durou menos de meia hora e partiu pela parte mais frágil e imberbe. Ainda a apalpar terreno na Liga, depoisde se ter estreado no B essa, Zié Ou at tara levou com G aleno e o que podia correr mal correu mesmo mal, com o brasileiro a meter velocidade, fantasia e, pior do que tudo, a ter o discernimento desejável nas manobras ofensivas, jogando para a equipa e não sozinho, para o espetá cu lo, como tantas vezes já fez, sem grandes efeitos práticos. É uma fera bem domada por Carlos Carvalhal e, como não perdeu os seus instintos furtivos, começa ase ruma mistura explosiva em qualquer jogo, para mal dos pecados de quem tem de travá-lo. No dérbi minhoto, chegou e quase sobrou para o Braga voltar a fazer a festa no castelo.
Zié foi só mais uma vítima e o Vitória sofreu por arrasto, pois o princípio da demolição do muro defensivo dos visitados, assente na posse de bola e no pendor ofensivo dos arsenalistas, passou muito pelas mudanças de velocidade de Galeno. Depressa se percebeu que a boa forma de Galeno não é uma questão passageira e, por mais que alguém desse uma mão a Zié Ouattara (vindo da equipa B), parecia que o 90 dos bracarenses arranjava sempre forma de se libertar. Foi por isso dos seus pés que nasceu a jogada do único golo: cruzamento atrasado, Paulinho a ajeitar, Iuri Medeiros a fazer o túnel e Esgaio, livre como um passarinho na área (todos estavam virados para Galeno), a ter tempo para rematar sem precipitações.
A contrariar o maior volume ofensivo do Braga, Quaresma aproveitava, como nenhum outro, as oportunidades que surgiam. Ora de bola parada (de livre, quase enganou Matheus), ora em lances individuais concluídos com verdadeiros “roquetes” tirados de fora da área, sempre muito próximos do alvo. Edwards e Rochinha bem tentaram seguir o exemplo do Mustang, mas faltava sempre alguma coisa: espaço, arte ou energia. Razão tinha João Henriques ao ter duvidado, na véspera, que o Braga se iria apresentar desgastado pelo jogo com o AEK, para a Liga Europa; sem alterações no onze inicial, o adversário apresentou-se bem fresco e dominou por completo até ao intervalo, tirando o pé do acelerador somente a meio da segunda parte, quando Carlos Carvalhal já geria a equipa a pensar no compromisso europeu de quinta-feira, na Ucrânia, frente ao Zorya.
Tirou Iuri Medeiros, Paulinho,
Castro e, de repente, o Vitória era por fim dono e senhor do jogo, ainda que sem grandes oportunidades, porqueo rival, demasiado permeável no arranque da época, aprendeu entretanto a defender e não se importa de jogar feio, como se viu na entrada violenta de David Carmo sobre Edwards, ainda a meio-campo, e que quase desencadeou uma lamentável cena de pancadaria, digna de um filme do Faroeste, resultando daí as expulsões de Carmo, Fransérgio e Jorge Fernandes. O assalto final pertenceu, de facto, ao Vitória, mas o Braga nunca deixou de criar perigo, chegando mesmo ao ponto de desperdiçar golos cantados, tendo Galeno (imagine-se!) e Schettine como protagonistas.