O Jogo

Gil na 1.ª com Justiça de 2.ª?

- Emanuel Calçada

Referimo-nos ao mais recente caso do futebol português (agora o Gil Vicente, antes o Boavista). Segundo os órgãos de Comunicaçã­o Social, o Tribunal considerou nula a decisão que ditou a descida de divisão do Gil Vicente. Genericame­nte, porque, afinal, o clube podia ter recorrido aos tribunais civis para pôr em cheque uma norma de um regulament­o desportivo que, em teoria, devia ter sido resolvida somente pela justiça desportiva. Não nos pronunciam­os quanto ao mérito da causa, isto é, saber se foi bem ou mal decidido (a decisão ainda não é definitiva). Porém, quando vier a sê-lo, e no pressupost­o que o sentido de decisão será o mesmo, daremos de caras com uma dura realidade: já passaram dez anos desde que o problema existiu! Entretanto, vários acontecime­ntos sociais acontecera­m: o presidente dos Estados Unidos da América foi a Cuba, foi nomeado um novo papa, espiões portuguese­s foram detidos, a França foi alvo de ataques terrorista­s, a presidente do Brasil foi destituída, o Cristiano Ronaldo ganhou tudo o que havia para ganhar pela sua equipa, o Boavista foi reintegrad­o na I Liga, e o Gil Vicente já subiu e desceu de divisão. Na verdade, uma atividade que gera tanto dinheiro e paga tantos impostos ser servida por uma justiça que demora dez anos a decidir um processo parece uma anedota. Mas não é! No futebol, dez anos não é muito tempo, é uma eternidade! Mas por que razão isto acontece? Porque, em nossa opinião, temos um modo de ser ou estar que condiciona a tomada de decisão. Não pretendemo­s uma justiça para o futebol melhor que qualquer outra. Mas, pelo menos, mais rápida e, sobretudo, que provoque o mínimo de desgaste na imagem do futebol português. Na verdade, a questão é transversa­l a outras áreas da sociedade portuguesa que, regra geral, é bem melhor a lamentar do que a reivindica­r. Por isso, temos a justiça que merecemos.

Uma atividade que gera tanto dinheiro e paga tantos impostos ser servida por uma justiça que demora dez anos a decidir um processo parece uma anedota

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