No deserto, todos olharam para ele
Ao fim de quase um ano e meio no FC Porto, trabalhando taticamente o seu modelo de jogo (e variações do sistema preferencial) todos os dias, Lopetegui surgiu contra o Chelsea mais hesitante da era Mourinho, num sistema (e dinâmicas de jogo) nunca antes utilizadas. Nunca antes o FC Porto jogara assim. Por mais que, em tese, a estratégia fizesse sentido lendo o adversário, esta “incoerência tática” para o tal processo tático-global de ano e meio, meteu, pura e simplesmente, a equipa 90 minutos num território estranho. Em campo, ela lutou para se perceber a... si própria. Vendo o jogo, mais do que se sentir receio do que o Chelsea poderia fazer, sentia-se receio da equipa perder as referências posicionais em campo (sobretudo pós-perda da bola) e ficar imediatamente vulnerável. Foi o que sucedeu. A ideia de “matar as transições rápidas” do Chelsea foi furada logo nos minutos iniciais numa simples e direta saída de dois “passes verticais” Ramires-Hazard-Diego Costa perante uma equipa azul e branca toda mal posicionada na transição defensiva. É completamente impossível entrar na cabeça dum treinador que ao fim de ano e meio inventa um sistema de três centrais (3x5x2 com bola/5x3x2 sem bola), laterais projetados, triângulo de médios em “1x2” e dois avançados móveis, quando antes sempre jogara em 4x3x3 (nos jogos grandes). Se o FC Porto jogou tão bem esta época na “fórmula-Champions dos quatro médios” com a nuance estratégica de esconder um deles no ataque, é difícil perceber porque não a reproduziu contra o Dínamo em casa e em Londres com o Chelsea. Foi por ter deixado de acreditar em Aboubakar para fazer golos? Foi por André André andar alegadamente a acusar cansaço? Avaliou o cansaço físico-tático dos jogadores e mudou. Após estar a perder 2-0, para tentar reagir, resgatou o 4x3x3 mais habitual, quase como uma “autotraição” à inovadora convicção estratégica com que lançara o jogo. Pode-se procurar mais razões que, honestamente, nenhuma faz sentido em termos de coerência dum trajeto de modelo de jogo de ano e meio, subitamente hipotecado a uma estratégia circunstancial para um jogo, contrariando tudo o que foi feito anteriormente. A identidade de uma equipa não é um mito. É, pelo contrário, o seu maior tesouro.