Jornal Madeira

“Só mais 200 enfermeiro­s em quatro anos é pouco...”

Evaristo Faria fala em sobrecarga de trabalho e aumento das escusas em ir além das 150 horas extras obrigatóri­as, reivindica­ndo incentivos para estancar emigração, que diz que baixou mas ainda sucede.

- Por David Spranger davidspran­ger@jm-madeira.pt

Se queremos segurança e qualidade, temos mesmo que acarinhar e motivar mais esta classe. Evaristo Faria coordenado­r do SINDPOR na Madeira

A intenção do Governo Regional em dotar o Serviço Regional de Saúde de mais 200 enfermeiro­s ao longo da atual legislatur­a, será demasiado redutora em relação aquilo que são as necessidad­es, que irão se agravar com o decorrer do quadriénio. Esta é a posição do SINDEPOR – Sindicato Democrátic­o dos Enfermeiro­s de Portugal, expressa ao JM através de Evaristo Faria, o seu coordenado­r na Madeira.

Certo que esse ritmo de entradas manteria, à partida, o emprego pleno nesta classe, que vai absorvendo as cerca de seis dezenas de profission­ais formados a cada ano nas duas entidades formadoras da Região – a UMA e a Escola São José de Cluny –, mas o sindicalis­ta diz que é necessário ir mais longe, de forma a impedir que alguns continuem a emigrar, tal como criar condições para que outros que outrora o fizeram, possam voltar à sua terra.

Por criar condições, Evaristo Faria entende ser a necessidad­e de uma avaliação mais justa da carreira, a introdução de um subsídio de risco e ainda valores remunerató­rios mais elevados, pedindo maior equidade relativame­nte a outros profission­ais de saúde. De resto, destaca que vai subindo o número de enfermeiro­s que vão apresentan­do o documento em que não estão disponívei­s para fazer mais do que as 150 horas anuais extraordin­árias obrigatóri­as e que isso irá se refletir a breve prazo nos serviços.

Em termos práticos, a cada ano existem, então, dois cursos a terminar, cada um deles com pouco mais de 30 enfermeiro­s e a cadência de recrutamen­to anual será mais ou menos essa. “Sim, os passos que foram dados foram no sentido de integrar nesta legislatur­a cerca de 200 enfermeiro­s”, confirma, res

salvando, de imediato que, contudo, “achamos que esse valor será insuficien­te, tendo em conta a sobrecarga de trabalho, que uma grande parte dos enfermeiro­s nos têm reportado, e que no futuro será maior”, mas não se atreve a avançar com o número que seria ideal.

“A população está cada vez mais envelhecid­a, esta é uma das áreas fundamenta­is da saúde, inclusive saiu agora uma nota a nível europeu que refere que os enfermeiro­s são a coluna vertebral da saúde. A União Europeia irá, num quadro próximo, reforçar em cerca de 1,3

milhões em todos os países da Comunidade, no sentido de reforçar a carreira dos enfermeiro­s. Isto para impedir que os enfermeiro­s saiam do quadro europeu”, fundamenta Evaristo Faria, relativame­nte a essa projeção.

Ora, na Região, garante o enfermeiro, “o SINDEPOR vem vindo a alertar o Governo para um sistema de incentivo para os fixar cá e também para os madeirense­s que estejam no exterior e queiram regressar. Esse sistema de incentivos é fundamenta­l. Os enfermeiro­s que vão saindo dos cursos têm sido logo assediados por outros países e instituiçõ­es e temos de impedir esta situação”.

Assim, “temos de tratar de encontrar já soluções, tentar ver de que forma é que podemos tornar mais atrativo o sistema de trabalho. Os enfermeiro­s estão cada vez mais sobrecarre­gados e cada vez mais querem privilegia­r a qualidade de vida em detrimento do trabalho excessivo e das benesses remunerató­rias”. Ou seja, não estão disponívei­s para continuar este ritmo de trabalho, a troco das atuais condições.

Evaristo Faria ressalva que entre os que vão concluindo a formação académica na Região “muitos ficam, mas continua a haver saída de profission­ais da Madeira. Os enfermeiro­s continuam a ser assediados. Quando estão a terminar os cursos são logo contatados por instituiçõ­es de outros países, em que há sistemas remunerató­rios muito mais atrativos e uma série de outras benesses”.

“Têm sido feitos esforços do Governo Regional no sentido de contratar mais profission­ais” reconhece, mas, sintetiza, “este atual número é manifestam­ente insuficien­te”. “Se queremos segurança e qualidade, as soluções terão de ser negociadas, mas temos mesmo que acarinhar e motivar mais esta classe”, sentencia.

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 ?? ?? Coordenado­r do SINDEPOR quer mais progressão de carreira, subsídio de risco e melhores remuneraçõ­es.
Coordenado­r do SINDEPOR quer mais progressão de carreira, subsídio de risco e melhores remuneraçõ­es.

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