“Só mais 200 enfermeiros em quatro anos é pouco...”
Evaristo Faria fala em sobrecarga de trabalho e aumento das escusas em ir além das 150 horas extras obrigatórias, reivindicando incentivos para estancar emigração, que diz que baixou mas ainda sucede.
Se queremos segurança e qualidade, temos mesmo que acarinhar e motivar mais esta classe. Evaristo Faria coordenador do SINDPOR na Madeira
A intenção do Governo Regional em dotar o Serviço Regional de Saúde de mais 200 enfermeiros ao longo da atual legislatura, será demasiado redutora em relação aquilo que são as necessidades, que irão se agravar com o decorrer do quadriénio. Esta é a posição do SINDEPOR – Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, expressa ao JM através de Evaristo Faria, o seu coordenador na Madeira.
Certo que esse ritmo de entradas manteria, à partida, o emprego pleno nesta classe, que vai absorvendo as cerca de seis dezenas de profissionais formados a cada ano nas duas entidades formadoras da Região – a UMA e a Escola São José de Cluny –, mas o sindicalista diz que é necessário ir mais longe, de forma a impedir que alguns continuem a emigrar, tal como criar condições para que outros que outrora o fizeram, possam voltar à sua terra.
Por criar condições, Evaristo Faria entende ser a necessidade de uma avaliação mais justa da carreira, a introdução de um subsídio de risco e ainda valores remuneratórios mais elevados, pedindo maior equidade relativamente a outros profissionais de saúde. De resto, destaca que vai subindo o número de enfermeiros que vão apresentando o documento em que não estão disponíveis para fazer mais do que as 150 horas anuais extraordinárias obrigatórias e que isso irá se refletir a breve prazo nos serviços.
Em termos práticos, a cada ano existem, então, dois cursos a terminar, cada um deles com pouco mais de 30 enfermeiros e a cadência de recrutamento anual será mais ou menos essa. “Sim, os passos que foram dados foram no sentido de integrar nesta legislatura cerca de 200 enfermeiros”, confirma, res
salvando, de imediato que, contudo, “achamos que esse valor será insuficiente, tendo em conta a sobrecarga de trabalho, que uma grande parte dos enfermeiros nos têm reportado, e que no futuro será maior”, mas não se atreve a avançar com o número que seria ideal.
“A população está cada vez mais envelhecida, esta é uma das áreas fundamentais da saúde, inclusive saiu agora uma nota a nível europeu que refere que os enfermeiros são a coluna vertebral da saúde. A União Europeia irá, num quadro próximo, reforçar em cerca de 1,3
milhões em todos os países da Comunidade, no sentido de reforçar a carreira dos enfermeiros. Isto para impedir que os enfermeiros saiam do quadro europeu”, fundamenta Evaristo Faria, relativamente a essa projeção.
Ora, na Região, garante o enfermeiro, “o SINDEPOR vem vindo a alertar o Governo para um sistema de incentivo para os fixar cá e também para os madeirenses que estejam no exterior e queiram regressar. Esse sistema de incentivos é fundamental. Os enfermeiros que vão saindo dos cursos têm sido logo assediados por outros países e instituições e temos de impedir esta situação”.
Assim, “temos de tratar de encontrar já soluções, tentar ver de que forma é que podemos tornar mais atrativo o sistema de trabalho. Os enfermeiros estão cada vez mais sobrecarregados e cada vez mais querem privilegiar a qualidade de vida em detrimento do trabalho excessivo e das benesses remuneratórias”. Ou seja, não estão disponíveis para continuar este ritmo de trabalho, a troco das atuais condições.
Evaristo Faria ressalva que entre os que vão concluindo a formação académica na Região “muitos ficam, mas continua a haver saída de profissionais da Madeira. Os enfermeiros continuam a ser assediados. Quando estão a terminar os cursos são logo contatados por instituições de outros países, em que há sistemas remuneratórios muito mais atrativos e uma série de outras benesses”.
“Têm sido feitos esforços do Governo Regional no sentido de contratar mais profissionais” reconhece, mas, sintetiza, “este atual número é manifestamente insuficiente”. “Se queremos segurança e qualidade, as soluções terão de ser negociadas, mas temos mesmo que acarinhar e motivar mais esta classe”, sentencia.