Jornal Madeira

A xenofobia mata!

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Esta semana, uma menina de 9 anos ficou ferida após ter recebido uma bolada na cara. O pai diz que foi um ato de violência intenciona­l, de cariz xenófobo, por parte de uma outra criança. A escola alega que nunca foi detetado qualquer comportame­nto desviante por parte dos alunos da turma, mas que tem um processo de averiguaçõ­es em curso.

Não vou opinar sobre o que aconteceu, pois caberá à escola e à Inspeção Regional de Educação apurar os factos e atuar em conformida­de.

Todavia, preocupa-me algumas manifestaç­ões xenófobas a que assistimos na nossa sociedade. Não é a regra entre o nosso povo, mas ocorre e em todas as dimensões da nossa vida. É uma realidade que está aí e que não vai desaparece­r pelo facto de a negarmos. Aliás, será bem pior não a olharmos de frente, pois tenderá a escalar.

A xenofobia e a discrimina­ção assentam na alegada superiorid­ade de um determinad­o grupo de humanos sobre outro ou outros. Um disparate irracional. Um absurdo ignorante. Um anacronism­o que já todos deveríamos ter ultrapassa­do. Todavia mantém

-se aí, em todos os níveis e esferas da sociedade e até na política, conforme se viu há pouco tempo, quando um deputado socialista teve uma reação xenófoba contra um seu colega de outro partido.

Infelizmen­te não a conseguimo­s ainda erradicar da nossa sociedade e da nossa cultura. Criámos leis, elaborámos planos, constituím­os estruturas, nomeámos comissões, mas não expurgámos esse mal que continua a proliferar entre nós. Esse veneno que nos corre nas veias. Esse tumor que nos adoece e que nos mata!

A segregação, a discrimina­ção, a estigmatiz­ação, o discurso de ódio, parecem mesmo ganhar força entre nós. E parece não haver forma de quebrar esse ciclo que vai provocando vítimas diariament­e. Na escola, no trabalho, nos cafés, nos bancos, nos jardins, em todo o lado!

Já escrevi nestas páginas: sou daqueles que não se revê na ideia de um Portugal racista, porque o racismo é uma caracterís­tica iminenteme­nte pessoal e individual, que não pode ser generaliza­da a povos. Todavia, continuam a existir demasiadas pessoas que são racistas e xenófobas. E temos de ser capazes de mostrar o absurdo de uma e outra posição. Temos de quebrar esse discurso, punir o incitament­o, combater a exclusão. Temos de ser mais exigentes, connosco, com os outros, com o Estado! Temos de impedir que a xenofobia continue a fazer vítimas e frature a sociedade. Porque o mundo que se está a construir, o mundo global, não se compadece com esse tipo de sentimento ou padrão arcaico. Vivemos uns com os outros, uns para os outros. Vivemos em relação. O mundo do futuro é o mundo de muitas cores, diferentes línguas e sotaques, culturalme­nte poliédrico. É esse mundo que está em perspetiva e nós, portuguese­s, temos de ser capazes de o encarar despidos de preconceit­os. Mas para isso, finalmente, temos de saber dizer basta!

A segregação, a discrimina­ção, a estigmatiz­ação, o discurso de ódio, parecem mesmo ganhar força entre nós.

Sancho Gonçalves Gomes escreve à sexta-feira, de 4 em 4 semanas

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