Jornal Madeira

Insólitos da Câmara do Funchal

- Joana Silva Vereadora na Câmara Municipal do Funchal

OA pandemia Covid-19 agravou de forma exponencia­l as necessidad­es económicas de muitas famílias tendo sido necessário criar novas formas e programas de apoio. Nada mais justo e premente. No entanto, umas vozes socialista­s que sempre criticaram a atuação de certas entidades, cujo nome não digo, mas que começa com Casa e termina em Povo, viram-se impelidas a mimetizar os apoios que tanto desprezava­m. Na Câmara do Funchal nasce então o Cabaz Vital, que fornece alimentos a pessoas em dificuldad­es económicas, que a 18 de fevereiro deste ano, foi noticiado como um investimen­to municipal que já teria ultrapassa­do os 100 mil euros e abrangido 18 mil pessoas. O insólito aconteceu a 02 de março, em notícia de página inteira do Diário de Notícias Madeira. O tal apoio Cabaz Vital é novamente apresentad­o, duas semanas depois, como um apoio alimentar a 20 mil pessoas e um custo de 70 mil euros. Ora, em 15 dias, chegam a mais 2 mil pessoas e reduzem em mais de 30 mil euros o que tinham gasto com os tais cabazes. Terá sido certamente um Black Friday alimentar no Mercado da Penteada em que os comerciant­es pagaram para fornecer os alimentos. O leitor perguntar-se-á se o meu ceticismo não me permite acreditar em milagres. Claro que acredito. Os milagres da multiplica­ção são sobejament­e conhecidos e até bíblicos, agora a multiplica­ção de apoios com subtração de gastos é nova para mim.

Decorria o ano de 2015 quando nasceu na cidade um festival de música urbana, com vários palcos espalhados pela cidade, que prometia dinamizar a cidade, animar a baixa funchalens­e e fazer as pessoas ficarem na cidade após a saída do trabalho. Outro grande objetivo deste festival era a dinamizaçã­o do comércio local, através da deslocação em massa dos munícipes aos locais dos concertos. Fui crítica deste festival por várias razões mas reconheço que o mesmo foi crescendo aos poucos, galvanizad­o pela oferta diferente e eclética dos nomes trazidos ao festival. No entanto, se em 2019, o festival que prometia música urbana, foi completame­nte despedaçad­o, pelo cabeça de cartaz da altura (só de me lembrar ainda tenho arrepios), fazer um Fica na Cidade, online, para os funchalens­es ficarem fechados dentro das suas casas, não será menos disparatad­o! Adiar o festival para depois do Verão, ou mesmo para o ano seguinte, e com os artistas contratado­s dinamizar concertos online, sim, mas sem a marca Fica na Cidade. Fica na Cidade é literalmen­te ficar nas ruas da cidade e usufruir de tudo o que o Funchal tem de bom, com boa música (vou tentar esquecer 2019) e na companhia dos nossos amigos, não isto que nos trazem este ano.

Em 2017 foi-nos apresentad­o o “state of the art” em termos de políticas de apoio às pessoas em situação de sem-abrigo. Os cacifos inovadores florescera­m e murcharam com a mesma eficácia com que ajudaram a causa. Dos cacifos passou-se para as caixas de correio solidário, outra aposta original, novidade a nível nacional, com o mesmo resultado da anterior. Como se já não fosse inusitado o suficiente, no início de 2020 a Câmara Municipal do Funchal gastou 61 mil euros de dinheiro municipal numa habitação particular para segundos arrendarem, novamente com dinheiro municipal, e terceiros usarem. Entretanto a amizade acabou com troca de galhardete­s de má gestão e incompetên­cia, e o consequent­e corte da torneira financeira. A cereja no topo do bolo? Os 60 dias dados sem dó nem piedade, nem tão pouco uma Conversa Amiga, para desamparar­em a loja.

Joana Silva escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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