Exceções para tudo, menos para ajudar quem precisa
Andamos entretidos com anúncios de apoios para isto ou aquilo. Milhões de euros anunciados sob a forma de programas ditos excecionais criados a propósito para ajudar quem precisa, mas que esbarram, invariavelmente, nas infindáveis e (a)normais burocracias que resistem, bem firmes, imunes à mudança. Nem em situação de emergência somos capazes de acelerar processos que desbloqueiem linhas de financiamento ou ajudas fundamentais para a subsistência de quem perdeu o emprego por causa da pandemia.
Torna-se, efetivamente, desesperante ouvir entidades públicas anunciarem isto, depois o Estado precisar daqueloutro e até Bruxelas pedir mais isto e aquilo. Tudo somado, passam-se meses até que o dinheiro chegue e, no entretanto, a dignidade dos destinatários das ajudas já sofreu danos irremediáveis como resultado de se verem obrigados a pedinchar – passe a expressão – para garantir a sobrevivência das suas famílias.
É óbvio que terão de existir regras que previnam aproveitamentos de fundos, que são necessariamente muitos para responder à realidade atual de autêntico descalabro económico. Regulamentação, todavia, que teria de escapar às barreiras confortáveis de quem prefere obstaculizar em excesso só porque dá mais trabalho reforçar meios que garantam mais e melhores recursos para acelerar procedimentos. No fundo, fiscalizar mais e fechar menos.
A pandemia mudou tudo. Trouxe um mundo novo que continua ‘agarrado’ às regras de um passado sem vírus, que funcionam hoje, mais do que nunca, apenas para acentuar desigualdades e prolongar a tormenta de milhares de famílias.
Tempestuoso continua o quotidiano de quem pratica(va) modalidades desportivas coletivas não profissionais na Madeira. A suspensão da atividade já vai longa e não se vislumbra ainda uma posição oficial que defina um horizonte para a retoma. Falou-se em abril. Já ‘sopra’ o mês de maio… Nem falamos em competição. Só os treinos já seriam motivo de festa rija.
Sem contribuições dos praticantes, mas com contas para pagar, clubes e associações agradecem naturalmente todos os apoios. Por isso, a mediatização de uma ‘boia de salvação’ da FPF no total de 1,6 milhões no auxílio a associações e clubes do País foi, evidentemente, recebida com agrado…
A associação do Porto teve direito a 333 mil euros, Braga teve de se contentar com 172 mil, Leiria menos um pouco, etc. Ah, e Algarve e Lisboa também vão receber em breve as quantias a que se candidataram. Portanto, o montante global ainda será maior. Parabéns à FPF, assim é que se trabalha… Depois, fomos passando em revista os destinatários do apoio e não vimos o nome da Madeira. Mau… Não se candidatou?
Bem, a resposta da FPF ao JM dissipou dúvidas e confirmou uma alegada ‘declaração de interesses’ que não contempla a AFM. O apoio criado para ajudar todos os clubes das provas nacionais e distritais que foram obrigados a suspender a atividade devido à pandemia tinha uma ‘pequena’ adenda: destinava-se apenas aos que estavam em competição em janeiro de 2021. Portanto, a Madeira, que sofre com o confinamento desportivo há mais tempo, não tem direito a nada. Justo!? Será que o Ronaldo sabe disto? Iria corar de vergonha ou talvez não. Talvez saibam explicar melhor o que, à primeira vista, só discrimina e aprofunda desigualdades entre clubes e associações que fazem parte de uma Federação que devia pensar em todos e não apenas no território continental. Até porque, embora não devesse ser necessário lembrar, o melhor de sempre nasceu cá.