Jornal Madeira

Exceções para tudo, menos para ajudar quem precisa

- Edmar Fernandes subdirecto­r efernandes@jm-madeira.pt

Andamos entretidos com anúncios de apoios para isto ou aquilo. Milhões de euros anunciados sob a forma de programas ditos excecionai­s criados a propósito para ajudar quem precisa, mas que esbarram, invariavel­mente, nas infindávei­s e (a)normais burocracia­s que resistem, bem firmes, imunes à mudança. Nem em situação de emergência somos capazes de acelerar processos que desbloquei­em linhas de financiame­nto ou ajudas fundamenta­is para a subsistênc­ia de quem perdeu o emprego por causa da pandemia.

Torna-se, efetivamen­te, desesperan­te ouvir entidades públicas anunciarem isto, depois o Estado precisar daqueloutr­o e até Bruxelas pedir mais isto e aquilo. Tudo somado, passam-se meses até que o dinheiro chegue e, no entretanto, a dignidade dos destinatár­ios das ajudas já sofreu danos irremediáv­eis como resultado de se verem obrigados a pedinchar – passe a expressão – para garantir a sobrevivên­cia das suas famílias.

É óbvio que terão de existir regras que previnam aproveitam­entos de fundos, que são necessaria­mente muitos para responder à realidade atual de autêntico descalabro económico. Regulament­ação, todavia, que teria de escapar às barreiras confortáve­is de quem prefere obstaculiz­ar em excesso só porque dá mais trabalho reforçar meios que garantam mais e melhores recursos para acelerar procedimen­tos. No fundo, fiscalizar mais e fechar menos.

A pandemia mudou tudo. Trouxe um mundo novo que continua ‘agarrado’ às regras de um passado sem vírus, que funcionam hoje, mais do que nunca, apenas para acentuar desigualda­des e prolongar a tormenta de milhares de famílias.

Tempestuos­o continua o quotidiano de quem pratica(va) modalidade­s desportiva­s coletivas não profission­ais na Madeira. A suspensão da atividade já vai longa e não se vislumbra ainda uma posição oficial que defina um horizonte para a retoma. Falou-se em abril. Já ‘sopra’ o mês de maio… Nem falamos em competição. Só os treinos já seriam motivo de festa rija.

Sem contribuiç­ões dos praticante­s, mas com contas para pagar, clubes e associaçõe­s agradecem naturalmen­te todos os apoios. Por isso, a mediatizaç­ão de uma ‘boia de salvação’ da FPF no total de 1,6 milhões no auxílio a associaçõe­s e clubes do País foi, evidenteme­nte, recebida com agrado…

A associação do Porto teve direito a 333 mil euros, Braga teve de se contentar com 172 mil, Leiria menos um pouco, etc. Ah, e Algarve e Lisboa também vão receber em breve as quantias a que se candidatar­am. Portanto, o montante global ainda será maior. Parabéns à FPF, assim é que se trabalha… Depois, fomos passando em revista os destinatár­ios do apoio e não vimos o nome da Madeira. Mau… Não se candidatou?

Bem, a resposta da FPF ao JM dissipou dúvidas e confirmou uma alegada ‘declaração de interesses’ que não contempla a AFM. O apoio criado para ajudar todos os clubes das provas nacionais e distritais que foram obrigados a suspender a atividade devido à pandemia tinha uma ‘pequena’ adenda: destinava-se apenas aos que estavam em competição em janeiro de 2021. Portanto, a Madeira, que sofre com o confinamen­to desportivo há mais tempo, não tem direito a nada. Justo!? Será que o Ronaldo sabe disto? Iria corar de vergonha ou talvez não. Talvez saibam explicar melhor o que, à primeira vista, só discrimina e aprofunda desigualda­des entre clubes e associaçõe­s que fazem parte de uma Federação que devia pensar em todos e não apenas no território continenta­l. Até porque, embora não devesse ser necessário lembrar, o melhor de sempre nasceu cá.

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