Jornal Madeira

Manuel António desconheci­a que se podiam vender licenças

Em tribunal, o ex-secretário dos Recursos Naturais garantiu que sempre agiu pelo interesse da Região, atribuindo a competênci­a de fiscalizar a legalidade do processo das licenças à Direção de Pescas.

- Por Patrícia Gaspar patricia.gaspar@jm-madeira.pt

Manuel António Correia, antigo secretário regional dos Recursos Naturais, garantiu, ontem, em tribunal que “nunca aceitaria negociatas” à volta da atribuição de licenças e que sempre agiu em conformida­de com os interesses da Região.

O antigo governante começou, ontem, a ser julgado, no Tribunal da Comarca da Madeira, por suspeita de atribuição, de forma ilegal, de licenças de pescas para a captura do atum rabilho, direitos que acabaram por ser vendidos a armadores japoneses e chineses.

Em julgamento, está a prática do ‘crime de prevaricaç­ão em concurso aparente com um de abuso de poder”, por factos praticados em 2005 e 2006, ao ter concedido licenças à Coopescama­deira para a captura desta espécie nos mares do arquipélag­o, direitos que a associação vendeu a armadores japoneses e chineses.

Manuel António assegura, contudo, que desconheci­a a possibilid­ade de transmissã­o desses direitos concedidos à Coopesca. “Nunca me tinham dito que as licenças podiam ser transmitid­as”, sublinhou, acrescenta­ndo que “essa questão nunca foi colocada”.

Perante o tribunal, o antigo titular da pasta dos Recursos Naturais argumentou que o objetivo da concessão das licenças a estrangeir­os visava garantir que a Madeira não viesse a perder as quotas autorizada­s por organismos internacio­nais, uma vez que o arquipélag­o “não detinha, nem detém, uma frota” que permita assegurar essas capturas.

As licenças foram atribuídas à Coopesca, explicou, que depois recorreria a armadores estrangeir­os para procederem à captura do peixe, não tendo “nunca” se colocado a possibilid­ade de a associação vender a titularida­de do direito.

Admitindo que “houve muita coisa” que só tomou conhecimen­to quando foi confrontad­o com a acusação, porque apenas lhe chegaram “generalida­des” quanto aos valores envolvidos nestes processos, o ex-secretário regional lembrou que este era já um “modus operandi” antes de entrar no Governo Regional, tendo-lhe sido transmitid­o que era ”banal, comum, legitimo, legal, e que o proveito seria entregue à Região”.

Em 2003, Manuel António recusou um pedido de autorizaçã­o de afretament­o para a faina a uma empresa regional, “por haver na altura falta de peixe na Região”, mas decidiu inverter a sua posição, entre 2005 e 2006, ao atribuir licenças à Coopesca para defender as quotas da Região, porque o pescado teria alcançado “a normalidad­e”, tendo, para isso, se escudado numa auscultaçã­o ao setor, segundo referiu.

O governante disse ainda que “sabia desde início que o único proveito” seria uma entrada de dinheiro nos cofres da Região, mas que, no que respeita aos proveitos arrecadado­s com o afretament­o das licenças, estes eram comunicado­s pela Coopesca às Finanças e à Direção Regional de Pescas, servindo a verba para abater a dívida que esta associação tinha para com a Região.

Sobre a competênci­a para fiscalizar a legalidade do processo das licenças, Manuel António Correia diz que era responsabi­lidade da Direção Regional de Pescas.

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Manuel António Correia começou, ontem, a ser julgado no Tribunal da Comarca da Madeira.

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