Música do Mundo chega a Sines com samba da ministra
Margareth Menezes, cantora e titular da Cultura no Brasil, atuou no Castelo e falou ao JN. Última noite do festival em Porto Covo dominada pelo Expresso Transatlântico
WORLD MUSIC A singularidade do Festival Músicas de Mundo (FMM) subiu este ano mais um patamar, com a atuação, ontem à noite, no palco do Castelo de Sines, de uma ministra em férias. Trata-se da titular da Cultura no Brasil, Margareth Menezes, precursora do samba-reggae na década de 1980, promotora do movimento afropop brasileiro, autora de 11 álbuns de originais desde a estreia, em 1988, com disco homónimo. Membro do Governo de Lula da Silva desde janeiro de 2023, Margareth tirou 13 dias de férias para regressar à música, incluindo a passagem por Sines numa breve digressão europeia.
A ARTE COMO NECESSIDADE
“Já houve outros ministros-artistas no Brasil, como o Gilberto Gil, e não tem como a gente se desligar do nosso eixo. A música é a minha profissão”, disse ao JN. No centro do espetáculo esteve o último registo de Margareth,
“Autêntica”, de 2019, disco-panorama que inclui releituras de temas de Caetano Veloso ou João Donato e que, devido à pandemia, viu adiada a sua apresentação ao vivo.
“Este disco nunca chegou a ser bem explorado. Veio depois o trabalho no ministério, onde encontramos uma verdadeira desconstrução das políticas culturais brasileiras. E neste último ano e sete meses todo o foco foi para a retomada do setor e para as entregas [medidas políticas]. Estive mergulhada no processo, e agora senti necessidade de dar atenção à minha carreira.”
Um artista com a pasta da cultura faz tanto sentido como um médico com a pasta da saúde, diz a cantora: “Não só tem a vivência, sabendo das necessidades do setor, como pode melhorar a relação com os intervenientes”.
A cantora atuou na noite em que o FMM se deslocou para Sines, após três dias de concertos em Porto Covo. Pisou o palco pouco depois de Salvador Sobral
e antes de Saigon Soul Revival, que mistura sons tradicionais do Vietname com psicadelismo, soul e bolero, ou Mezerg, multi-instrumentista francês que vai do jazz à eletrónica e ao experimentalismo.
ESPANTOSO GASPAR
No último dia de Porto Covo, que contou com Três Tristes Tigres e Melingo, cantor argentino com ar de “juggler” que atira tango contra rockabilly, o destaque terá de ir para Expresso Transatlântico, que fizeram esquecer os suecos Dungen, que cancelaram.
Espantoso o que Gaspar Varela faz com a guitarra portuguesa, manipulando-a como se fosse o instrumento de uma furiosa banda punk. Espantoso o que o irmão, Sebastião, e os restantes músicos produzem à volta, retirando a guitarra tradicional do seu contexto, levando-a para terrenos psicadélicos, e, nesse gesto, reinventando-a, musculando-a, insuflando-lhe novas paisagens e possibilidades. A seguir com lupa.