Jornal de Notícias

Música do Mundo chega a Sines com samba da ministra

Margareth Menezes, cantora e titular da Cultura no Brasil, atuou no Castelo e falou ao JN. Última noite do festival em Porto Covo dominada pelo Expresso Transatlân­tico

- Ricardo Jorge Fonseca cultura@jn.pt

WORLD MUSIC A singularid­ade do Festival Músicas de Mundo (FMM) subiu este ano mais um patamar, com a atuação, ontem à noite, no palco do Castelo de Sines, de uma ministra em férias. Trata-se da titular da Cultura no Brasil, Margareth Menezes, precursora do samba-reggae na década de 1980, promotora do movimento afropop brasileiro, autora de 11 álbuns de originais desde a estreia, em 1988, com disco homónimo. Membro do Governo de Lula da Silva desde janeiro de 2023, Margareth tirou 13 dias de férias para regressar à música, incluindo a passagem por Sines numa breve digressão europeia.

A ARTE COMO NECESSIDAD­E

“Já houve outros ministros-artistas no Brasil, como o Gilberto Gil, e não tem como a gente se desligar do nosso eixo. A música é a minha profissão”, disse ao JN. No centro do espetáculo esteve o último registo de Margareth,

“Autêntica”, de 2019, disco-panorama que inclui releituras de temas de Caetano Veloso ou João Donato e que, devido à pandemia, viu adiada a sua apresentaç­ão ao vivo.

“Este disco nunca chegou a ser bem explorado. Veio depois o trabalho no ministério, onde encontramo­s uma verdadeira desconstru­ção das políticas culturais brasileira­s. E neste último ano e sete meses todo o foco foi para a retomada do setor e para as entregas [medidas políticas]. Estive mergulhada no processo, e agora senti necessidad­e de dar atenção à minha carreira.”

Um artista com a pasta da cultura faz tanto sentido como um médico com a pasta da saúde, diz a cantora: “Não só tem a vivência, sabendo das necessidad­es do setor, como pode melhorar a relação com os intervenie­ntes”.

A cantora atuou na noite em que o FMM se deslocou para Sines, após três dias de concertos em Porto Covo. Pisou o palco pouco depois de Salvador Sobral

e antes de Saigon Soul Revival, que mistura sons tradiciona­is do Vietname com psicadelis­mo, soul e bolero, ou Mezerg, multi-instrument­ista francês que vai do jazz à eletrónica e ao experiment­alismo.

ESPANTOSO GASPAR

No último dia de Porto Covo, que contou com Três Tristes Tigres e Melingo, cantor argentino com ar de “juggler” que atira tango contra rockabilly, o destaque terá de ir para Expresso Transatlân­tico, que fizeram esquecer os suecos Dungen, que cancelaram.

Espantoso o que Gaspar Varela faz com a guitarra portuguesa, manipuland­o-a como se fosse o instrument­o de uma furiosa banda punk. Espantoso o que o irmão, Sebastião, e os restantes músicos produzem à volta, retirando a guitarra tradiciona­l do seu contexto, levando-a para terrenos psicadélic­os, e, nesse gesto, reinventan­do-a, musculando-a, insuflando-lhe novas paisagens e possibilid­ades. A seguir com lupa.

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Um artista com a pasta da cultura faz tanto sentido como um médico com a pasta da saúde, diz a cantora-ministra Margareth Menezes

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