Jornal de Notícias

Se o fogo se aproximar, é José quem dá o alerta

População de Carreira duplica no verão, altura em que risco de incêndio se agrava, e objetivo é evitar atitudes movidas pelo pânico

- Rui Dias locais@jn.pt

A aldeia de Carreira é o lugar mais afastado de uma freguesia periférica da Póvoa de Lanhoso. A partir do centro da vila, é uma viagem de 25 minutos de dia, com bom tempo. Perante um incêndio que ameace as casas, pode ser tempo de mais, principalm­ente se, à chegada, os bombeiros e a GNR ainda tiverem de ir, porta a porta, para garantir que as pessoas já saíram das casas.

Foi por isso que a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso escolheu este lugar para implementa­r o primeiro projeto Aldeia Segura do concelho. Ricardo Alves, vereador da Proteção Civil, chama a atenção para o acesso ao casario da aldeia de Carreira, onde moram 17 pessoas durante todo o ano e umas 40 no verão, com emigrantes em férias e turistas estrangeir­os, em especial alemães e neerlandes­es.

“A estrada por onde viemos é a única. É entrada e saída”, aponta. “Em caso de incêndio, se todas as pessoas se meterem nos seus carros e se fizerem à estrada, é provável que se cruzem com os bombeiros. Se houver um acidente, o que não é difícil num caso de pânico, a estrada fica cortada e não passa ninguém”, ilustra o responsáve­l pela Proteção Civil municipal, Pedro Dias.

EVITAR O PÂNICO

Com o programa Aldeia Segura, pretende-se evitar a resposta individual, movida pelo pânico e pela irracional­idade. “Em algumas situações, as pessoas parecem mais interessad­as em salvar o Peugeot 3008, que estão a pagar a prestações, do que a própria vida”, ironiza o vereador Ricardo Alves.

José Manuel é o oficial de segurança local, encarregad­o de implementa­r as medidas, no caso de haver um fogo. Este funcionári­o da Junta de Freguesia e agricultor (ex-membro de uma brigada de sapadores florestais) conhece cada um dos moradores, sabe quem está em casa em qualquer horário e também as pessoas que precisam de ajuda para se deslocarem. “Temos uma senhora que meteu uma prótese na anca e usa um andarilho e o meu pai que está acamado”, refere.

“Este conhecimen­to direto é fundamenta­l, porque os sinais sonoros, como o megafone, não chegam, por exemplo, a um surdo. Aqui não temos nenhum, mas temos pessoas que não conseguem andar”, explica o vereador.

NINGUÉM FICA PARA TRÁS

A tarefa de José Manuel é garantir que toda a gente se reúne no ponto de encontro assinalado nos mapas fixados pelas paredes da aldeia. Em todas as ruas, a cada esquina, encontram-se sinais fotolumine­scentes (como os que se veem nos parques de estacionam­ento) a indicar o caminho mais direto para o ponto de reunião.

O número de telefone de José Manuel está numa lista de prioritári­os para os bombeiros, o vereador, a GNR e a Proteção Civil em geral. O objetivo é coordenar a evacuação, se ela for necessária, como já aconteceu em 2006 e em 2016.

“Se for preciso, mandamos um minibus e tiramos todas as pessoas de uma vez”, afirma o vereador da Póvoa de Lanhoso. “Se os bombeiros não tiverem de se preocupar com a população, podem chegar e atacar logo o fogo. Ganha-se tempo precioso”, indica Pedro Dias.

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José Manuel, de colete laranja, sabe quem está em casa em qualquer horário

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