As cuecas, a gótica, o lenço e a hipocrisia na Eurovisão
Amanhã vamos ver o Windows95man e as suas cuecas criativas com o logótipo da Microsoft e a Bambie Thug, pessoa não binária cujo estilo gótico irrita conservadores extremistas. Espera-se ainda mais exuberância e diversidade. É assim o Festival Eurovisão da Canção. Alegre, colorido, inclusivo. Mas também hipócrita, cínico e com pano censório.
As regras do certame por onde já passaram nomes incontornáveis da história da música, como, por exemplo, os ABBA e Céline Dion, proíbem gestos, discursos ou letras de natureza política. Este foi o argumento para que a União Europeia de Radiodifusão mandasse retirar das suas redes sociais e do YouTube a atuação de Eric Saade na cerimónia de abertura da primeira semifinal do festival. O artista usou um lenço tradicional da Palestina e a organização não gostou. “É triste que ele tenha utilizado a sua participação desta forma”, lamentou Ebba Adielsson, produtora-executiva do concurso.
A irlandesa Bambie Thug também foi obrigada a apagar do seu corpo as palavras que havia inscrito para a atuação na primeira semifinal. “Cessar-fogo e liberdade” incomodaram. Como desagradou o símbolo de solidariedade com a Palestina que o cantor sueco enrolou no pulso.
Este festival, que se diz apolítico, é o mesmo que estimulou a cooperação entre os países europeus após a Segunda Guerra Mundial e que agregou, e bem, países saídos da dissolução da URSS, em 1991. O mesmo que proibiu a participação da Rússia após a invasão da Ucrânia e o mesmo que não quer qualquer bandeira da Palestina a esvoaçar pelo pavilhão Malmö Arena. O mesmo que, com estas atitudes infelizes, fez com que a representante de Israel fosse ontem vaiada num ensaio.
Este é o festival de uma Europa. Não, certamente, da que vai a votos no próximo mês. A da liberdade.