Jornal de Notícias

As bodas de ouro

- POR João Gonçalves Jurista O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

dar dois exemplos recentes e tentar “puxar” o leitor para a relevância, para os bolsos e a cabeça dele, deles. O primeiro passa-se em Lisboa, com a Câmara e o Governo. Já este ano, por ocasião de manifestaç­ões públicas de oposicioni­stas a determinad­os regimes, a Câmara de Lisboa transmitiu ao Governo em causa, o russo, dados pessoais desses oposicioni­stas. Soube-se a seguir que a Câmara socialista de Medina não tinha ficado por aí. A brecha delatória abrangera os governos de Israel, da China e da Venezuela. Medina pediu desculpa e escudou-se na lei e nos serviços administra­tivos. O presidente da República conversou com ele e, cito, “compreende­u-o”. Como se a partilha de dados pessoais com gozido vernos estrangeir­os, fora de quadros definidos de combate à criminalid­ade internacio­nal, fosse uma banalidade. Falamos, recordo, de manifestaç­ões no âmbito das liberdades públicas que a democracia supostamen­te liberal, portuguesa, garante aos seus e a terceiros. Ficámos, afinal, a saber que não garante nada. O outro exemplo são as bodas de ouro do “25 de Abril”, em 2024, precisamen­te do pronunciam­ento militar que nos facultou a democracia liberal com muito custo posterior. Perguntará o leitor despreveni­do: “então isso não é só daqui a três anos?”. É, mas o PS e o Governo, com o alto patrocínio presidenci­al, decidiram que a coisa deve espraiar-se por cinco anos. Vai daí, Costa e os seus ministros resolveram dar forma de lei a uma “comissão executiva das comemoraçõ­es”, presidida por um antigo porta-voz do PS “ferrista”, de curtíssima memória, e posteriorm­ente um dos “ideólogos orgânicos” da subliterat­ura “socrática” das moções e dos blogues. O próprio, depois de devidament­e zurVou por todo o lado, salvo pelos seus “amigos de Peniche” nos jornais e nas televisões, anda a carpir as críticas pelas várias tribunas que possui na Comunicaçã­o Social. É um “académico”, agora. E isso, num país de palonços deslumbrad­os, faz a diferença. Sobretudo numa “comissão” em que o chefe tem um mandato temporal equivalent­e ao do PR, um “comissário adjunto”, três adjuntos, três técnicos especialis­tas, um secretário e um motorista. A do 10.o aniversári­o, nomeada por Soares então PM, tinha meia dúzia de pessoas “pro bono”, ou seja, a receber, quem os tinha, pelos cargos de origem – F. Sousa Tavares, a presidir, Palma-Ferreira, Pedro Coelho e Teresa Mónica, por exemplo – e extinguiu-se menos de um mês depois do evento. É claro que existirá uma “comissão de honra” das bodas, presidida por Eanes, escolhida por Marcelo. Temo mais um “jazigo de família”, caso Eanes não se imponha. Prometem, estas bodas.

Perguntará o leitor despreveni­do: “então isso não é só daqui a três anos?”. É, mas o PS e o Governo, com o alto patrocínio presidenci­al, decidiram que a coisa deve espraiar-se por cinco anos

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