As bodas de ouro
dar dois exemplos recentes e tentar “puxar” o leitor para a relevância, para os bolsos e a cabeça dele, deles. O primeiro passa-se em Lisboa, com a Câmara e o Governo. Já este ano, por ocasião de manifestações públicas de oposicionistas a determinados regimes, a Câmara de Lisboa transmitiu ao Governo em causa, o russo, dados pessoais desses oposicionistas. Soube-se a seguir que a Câmara socialista de Medina não tinha ficado por aí. A brecha delatória abrangera os governos de Israel, da China e da Venezuela. Medina pediu desculpa e escudou-se na lei e nos serviços administrativos. O presidente da República conversou com ele e, cito, “compreendeu-o”. Como se a partilha de dados pessoais com gozido vernos estrangeiros, fora de quadros definidos de combate à criminalidade internacional, fosse uma banalidade. Falamos, recordo, de manifestações no âmbito das liberdades públicas que a democracia supostamente liberal, portuguesa, garante aos seus e a terceiros. Ficámos, afinal, a saber que não garante nada. O outro exemplo são as bodas de ouro do “25 de Abril”, em 2024, precisamente do pronunciamento militar que nos facultou a democracia liberal com muito custo posterior. Perguntará o leitor desprevenido: “então isso não é só daqui a três anos?”. É, mas o PS e o Governo, com o alto patrocínio presidencial, decidiram que a coisa deve espraiar-se por cinco anos. Vai daí, Costa e os seus ministros resolveram dar forma de lei a uma “comissão executiva das comemorações”, presidida por um antigo porta-voz do PS “ferrista”, de curtíssima memória, e posteriormente um dos “ideólogos orgânicos” da subliteratura “socrática” das moções e dos blogues. O próprio, depois de devidamente zurVou por todo o lado, salvo pelos seus “amigos de Peniche” nos jornais e nas televisões, anda a carpir as críticas pelas várias tribunas que possui na Comunicação Social. É um “académico”, agora. E isso, num país de palonços deslumbrados, faz a diferença. Sobretudo numa “comissão” em que o chefe tem um mandato temporal equivalente ao do PR, um “comissário adjunto”, três adjuntos, três técnicos especialistas, um secretário e um motorista. A do 10.o aniversário, nomeada por Soares então PM, tinha meia dúzia de pessoas “pro bono”, ou seja, a receber, quem os tinha, pelos cargos de origem – F. Sousa Tavares, a presidir, Palma-Ferreira, Pedro Coelho e Teresa Mónica, por exemplo – e extinguiu-se menos de um mês depois do evento. É claro que existirá uma “comissão de honra” das bodas, presidida por Eanes, escolhida por Marcelo. Temo mais um “jazigo de família”, caso Eanes não se imponha. Prometem, estas bodas.
Perguntará o leitor desprevenido: “então isso não é só daqui a três anos?”. É, mas o PS e o Governo, com o alto patrocínio presidencial, decidiram que a coisa deve espraiar-se por cinco anos