UM NOVO CARTÃO CONTRA A POBREZA
Projeto-piloto da Cruz Vermelha visa dignificar apoio alimentar. Acima de mil famílias já são beneficiárias
O Governo está a estudar a possibilidade de implementar um sistema de cartões recarregáveis para permitir que as famílias mais pobres comprem alimentos. Em vez de distribuir apenas cabazes alimentares, como é feito há vários anos, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que tutela o projeto, pondera começar a entregar às famílias cartões “tipo multibanco”, com plafonds de acordo com o agregado e as necessidades de cada família. “Ao cartão será atribuído um plafond, com periodicidade e regularidade de carregamento”, explicou ao JN fonte do gabinete da ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho.
Ao abrigo do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), os beneficiários deixam de estar apenas dependentes dos produtos que compõem o cabaz alimentar e passam a poder adquirir produtos à sua escolha. A Rede Europeia Antipobreza/EAPN-Portugal e a Confederação Nacional de Instituições Particulares de Solidariedade já se mostraram favoráveis ao projeto.
Desta forma, o auxílio aos carenciados será feito através dos cartões ou de cabazes ou as duas modalidades em simultâneo, dependendo da especificidade de cada família.
O Programa Operacional destina-se ao apoio alimentar a famílias em situação de carência económica, mas não é o único recurso existente para apoiar estas situações. “No âmbito da avaliação casuística realizada pelos serviços de ação social locais sobre a situação de cada agregado familiar, é definido um plano de intervenção que pode passar por disponibilizar o acesso ao POAPMC bem como a outros apoios/recursos”, referiu fonte do Ministério da Solidariedade.
A utilização do cartão eletrónico “tem como objetivo reduzir a estigmatização muitas vezes associada às famílias carenciadas, através da implementação de um modelo de consumo e de acesso a bens alimentares em igualdade de circunstâncias com famílias não carenciadas”, incentivando a “autonomia, a autodeterminação e o desenvolvimento de competências sociais, através da possibilidade das famílias carenciadas poderem gerir o orçamento que lhes é atribuído, planear as suas refeições e selecionar os alimentos de acordo com a preferência de cada família”, salientou o gabinete de Ana Mendes Godinho.
“A minha menina andava a pedir-me um caderno pequeno de linhas, um bloco A4 de papel cavalinho e um afia com três entradas e eu comprei com este cartão. Para muita gente pode ser insignificante, mas para mim foi muito”
Rosa Vale beneficiára do Cartão Dá