Vitória regional que pode acabar em triunfo nacional
Com uma quase maioria absoluta em Madrid, o Partido Popular reúne argumentos para lutar pela liderança do Governo central nas eleições de 2023
ESPANHA A extraordinária vitória de Isabel Diaz Ayuso, do Partido Popular (PP), nas eleições autonómicas da Comunidade de Madrid mudou por completo o tabuleiro político espanhol para os próximos tempos. As primeiras peças a cair foram o Ciudadanos, que não travou a queda livre, ficando fora do Parlamento, e Pablo Iglesias, candidato do Unidas Podemos (UP) e ex-vice-primeiro-ministro, que decidiu pôr ponto final à carreira política após os maus resultados (ler caixa). Entretanto, o Partido Socialista (PSOE) também saiu claramente debilitado, depois de conseguir os piores resultados de sempre na região da capital (24 lugares), sendo igualado pelo fenómeno Más Madrid (24 deputados) como segunda força política.
Ayuso (com 65 lugares) ficou só a quatro assentos da maioria absoluta, mas vai poder governar graças ao apoio do Vox (extrema-direita), que se manteve estável como quarta força, com 13 assentos.
A popularidade de Ayuso, atual presidente regional, foi sublinhada nas urnas, onde os madrilenos apostaram pela continuidade da “liberdade” desfrutada durante os mais recentes meses da pandemia. Através de um discurso próximo do populismo, a autarca exibiu o seu modelo económico, baseado em restrições leves – sem fechar a hotelaria nem a restauração – e na redução de impostos, contrariamente ao que foi proposto pelos candidatos de Esquerda, qualificados pela líder popular como comunistas.
LUTA INTERNA À VISTA?
Os argumentos de Ayuso foram mais do que suficientes para convencer o eleitorado da Direita e obter mais assentos do que a soma total do bloco da esquerda (58): Más Madrid (24), PSOE (24) e UP (dez).
Mónica García, candidata do Más Madrid, vai liderar a oposição, apostando num modelo progressista próximo dos partidos verdes europeus.
Após os maus resultados eleitorais na Catalunha, o PP renasceu numa “praça” como Madrid, que governa há 16 anos, graças à nova reunificação das forças da Direita.
A estratégia de Ayuso de convocar eleições antecipadas foi o princípio do fim do Ciudadanos (sem qualquer assento), antigo parceiro da coligação madrilena, com o qual tinha mantido uma relação controversa. Os populares saíram vencedores da batalha pelo centro-direita, já que “engoliram” os 26 assentos do Ciudadanos e abrandaram a ascensão da extrema-direita.
A incerteza que aparece no caminho da Direita é se realmente o efeito Ayuso poderá ser capaz de potenciar um regresso popular à liderança do Governo central nas próximas eleições legislativas, marcadas para 2023. Apesar de o objetivo comum ser derrotar o primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, existem grandes diferenças no seio do PP, que podem espoletar uma guerra interna pelo poder. A presidente de Madrid converteu-se na principal arma da oposição perante o Executivo, aproximando-se do Vox. Por outro lado, Pablo Casado, líder popular, decidiu afastar-se da extrema-direita, mas continua a pagar a triste fatura da corrupção dos seus predecessores.