Tillerson tenta a diplomacia pessoal na crise do Qatar
Um “mecanismo de monitorização do financiamento do terrorismo” pode muito bem ser o tema central da viagem ao Golfo iniciada ontem pelo secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson. O homem que cedo introduziu a diplomacia na crise com o Qatar – acusado de apoiar grupos terroristas por quatro vizinhos liderados pela Arábia Saudita que lhe impuseram, por isso, um bloqueio económico e territorial – chegou ontem ao Kuwait para um périplo entre Doha e Riade.
Arábia Saudita (sunita), Bahrain, Emirados Árabes Unidos e Egito apontam a Doha a aproximação ao Irão (xiita), rival regional do quarteto. E pedem o fecho de uma base turca e o silenciamento da televisão pan-árabe al-Jazeera, que acusam de ser um instrumento de propaganda de extremistas – a cadeia foi o canal para o Mundo na “Primavera Árabe”, mormente no Egito, onde foi conduzida pela islamita Irmandade Muçulmana (que também a tentou iniciar na Síria).
Doha rejeita as acusações e denuncia uma tentativa de destruição da soberania qatari, cuja política externa insiste em ser independente da do resto da região. Desde o início do bloqueio, a 5 de junho, o Irão tem sido, com a Turquia e Omã, a âncora de sobrevivência do pequeno emirado.
A vigilância do financiamento do terrorismo, avançada por um diplomata ocidental em Doha, citado pela Reuters, foi de certa forma retomada por R.C. Hammond, conselheiro principal de Rex Tillerson para quem é fundamental que o Qatar e também a Arábia Saudita e aliados travem esse financiamento. “É uma via de dois sentidos, não há aqui mãos limpas”, disse Hammond. Além de não querer um reforço da influência do Irão, os EUA também não podem esquecer – à exceção do presidente, que depressa assumiu as dores da Arábia Saudita contra o Qatar – que têm no Qatar a sua maior base militar do Médio Oriente.