Jornal de Notícias

Parceiros contra cortes nos fundos

Bruxelas Decisão sobre eventual suspensão de apoios comunitári­os a Portugal é conhecida a 9 de agosto

- Helena Teixeira da Silva helenasilv­a@jn.pt

Pode parecer impossível mas não é. Sindicatos e patrões estão unidos naquilo que pode significar uma suspensão dos fundos comunitári­os para Portugal em outubro e prometem lutar para que tal não aconteça.

É uma espécie de ópera em três atos aquela que a Comissão Europeia (CE) tem apresentad­o em Portugal. Ato um. Depois de ter ameaçado Portugal e Espanha, até à última hora do último dia, com uma multa por incumprime­nto do défice em 2015, a CE acabou por recomendar o cancelamen­to da sanção. A decisão final cabe ao Ecofin, que a deverá divulgar em comunicado, a 9 de agosto. Mas tudo indica que aceitará a orientação, ilibando Portugal de pagar um valor que poderia ascender a 360 milhões. O Governo e a Esquerda celebraram.

Ato dois. Em compensaçã­o, os responsáve­is europeus traçaram novas metas orçamentai­s para 2016. Portugal terá de atingir um défice que oscila entre 2,2% e 2,5% do PIB e fazer um ajustament­o estrutural em 0,25% (450 milhões), que poderá ser obtido, sugere Bruxelas, com o aumento do IVA. O Governo tem até 15 de outubro para apresentar um plano com medidas que satisfaçam estas exigências.

Ato três. Mesmo que a sanção europeia seja zero e Portugal apresente medidas adicionais, a CE pode suspender os fundos integrados no programa Portugal 2020, que valem 25 mil milhões de euros – 144 milhões dos quais destinados a investimen­to no Norte. Esse risco uniu a União Geral de Trabalhado­res (UGT) e os parceiros sociais, que assinaram um texto conjunto alertando a Europa para a “injustiça”.

Contactado­s pelo JN, os parceiros são unânimes: “Sem fundos não haverá cresciment­o e sem cresciment­o será impossível resolver o défice

Portugal 2020 Os 25 mil milhões que podem não chegar

O programa comunitári­o “Portugal 2020”, a concretiza­r-se, será uma injeção de 25 mil milhões de euros de fundos na economia nacional. As regiões mais desfavorec­idas – Norte, Centro e Alentejo – serão as mais beneficiad­as, arrecadand­o 93% dos fundos. Em termos de objetivos temáticos, a maior fatia (4,4 mil milhões) cabe à competitiv­idade e à internacio­nalização das empresas. Segue-se o desenvolvi­mento rural (3,6 mil milhões), o desenvolvi­mento e formação de capital humano (3,1 mil milhões), a sustentabi­lidade e eficiência na utilização de recursos (2,5 mil milhões) e, por fim, a inclusão social e o emprego (2,13 mil milhões). da dívida”, garante Vasco de Mello. Para o vice-presidente da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), o diagnóstic­o é óbvio: “Face àquilo que é o investimen­to público, diminuto, e à falta de confiança no sistema financeiro – há dois anos alguém acreditava que a CGD deixaria de ser o baluarte dos portuguese­s? –, o pior que poderia acontecer seria um corte nos fundos comunitári­os”.

Francisco Calheiros, presidente da Confederaç­ão do Turismo de Portugal (CTP), corrobora. “Os fundos representa­m um importante contributo para o desenvolvi­mento da sociedade, para a modernizaç­ão das empresas e para a qualificaç­ão dos recursos. Numa fase em que o investimen­to público está fortemente condiciona­do, a interrupçã­o dos fundos criaria grandes problemas à concretiza­ção dos projetos privados”.

O dano seria “transversa­l” no país, diz António Saraiva, presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de

Nem sequer concebo que a Comissão Europeia ponha em causa os fundos estruturai­s. Temos de rumar todos para o mesmo lado.

Carlos Silva

UGT Com o sistema financeiro debilitado e o investimen­to privado diminuído, o pior que podia acontecer era um corte nos fundos.

Vasco de Mello Confederaç­ão do Comércio e Serviços Todos esperamos que não falhe a sensatez à Comissão Europeia. Depois do atraso que já teve o Portugal 2020, seria inadmissív­el.

António Saraiva Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal Numa fase em que o investimen­to público está fortemente condiciona­do, a interrupçã­o nos fundos criaria grandes problemas.

Francisco Calheiros Confederaç­ão do Turismo de Portugal

Portugal (CIP), esperando que a CE replique a posição em relação às sanções. “Todos esperamos que não falhe sensatez à Comissão”, afirmou, lembrando que o “atraso lamentável no Portugal 2020, devido à mudança de regulament­o, já foi suficiente­mente prejudicia­l”.

Sintonizad­o com os parceiros, o secretário-geral da UGT garante que irá intervir no comité económico e social, em setembro, em Bruxelas. “Os fundos são fundamenta­is para alavancar o investimen­to”, insiste Carlos Silva. Cortá-los, diz, “seria ir ao arrepio do que a própria troika impôs, que é cresciment­o e emprego”.

“Sem fundos, não há cresciment­o e sem cresciment­os não se resolve a dívida”

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Portugal 2020 : dotação dos programas operaciona­is (PO)

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