A Europa “moderada” e o Islão
Francisco tem razão. Estamos em guerra. Mas esta guerra é-nos declarada em nome de um Deus e de uma religião
O Papa Francisco passou pelas Jornadas Mundiais da Juventude de 2016, em Cracóvia, no âmbito de uma visita pastoral e de Estado à Polónia. Quer no avião, quer diante dos jovens, o Papa, no desenvolvimento do que tem afirmado sobre a praga e as mutações recentes do terrorismo, não hesitou em dizer que o Mundo está em guerra embora, acrescentou, as religiões não estejam. Talvez sem querer, Francisco entrou directamente no “debate” em curso, sobretudo na Europa, em torno do combate ao terrorismo islâmico. Se adianto o adjectivo é porque entendo não ser esta luta desprovida de conotações específicas como, tantas vezes, se procura disfarçar nos meios comunicacionais. De facto, e apesar das “promessas” multiculturalistas, do desvirtuamento “correcto” dos valores ocidentais e dos “diálogos inter-religiosos”, há lados que nos impõem lealdade e outros uma rejeição sem sofismas. A crise dos refugiados baralhou as coisas e, em algumas reacções aos derradeiros ataques assassinos – é preciso recordar que, no último, foi humilhado, primeiro, e a seguir degolado um padre católico, logo e com ele, toda a humanidade cristã – foi notória a contenção política e, especialmente em França, a “moderação” apenas morigerada pela intenção do Governo de Manuel Valls em deixar de financiar a edificação de mais mesquitas. Por cá, em Lisboa, quer-se construir outra sem se perguntar, como de costume, nada a ninguém porventura por causa das coisas. Todavia um autor francês, Anatole France, explicou brevemente o porquê de tanta “moderação” timorata e de tanta complacência bajuladora: “os moderados opõem-se sempre moderadamente à violência”. Aqui Francisco tem razão. Estamos em guerra. Mas esta guerra é-nos declarada em nome de um Deus e de uma religião. Não há, pois, “fraternidade” que nos salve dela. Dir-se-á que o Islão não é culpado pelos seus devotos, individualmente considerados, “integrados” ou por integrar na Europa. Não é bem assim. Como escreveu Roger Scruton, os islamitas, com a sua fé nostálgica de uma “comunidade original e pura prometida pelo profeta”, desprovida de qualquer tipo de racionalidade, travam uma “zanga sem fim contra o Outro”. Mais de que um inimigo, o terrorismo é “um método que o inimigo usa” através de jovens fanáticos religiosos e que nos deve levar a “pôr em prática aquilo em que acreditamos”. Bento XVI, um crente sem ilusões, alertou em devido tempo: “a chamada “ética mundial” não passa de uma abstracção”.