Jornal de Notícias

Tribunal de Contas fiscaliza contrato para renovação de hélis

Defesa Estado usou a fórmula da adjudicaçã­o direta para renovar helicópter­os da Marinha. Contrato foi assinado na semana passada

- Carlos Varela carlos.varela@jn.pt

Portugal vai gastar 69 milhões de euros na renovação de cinco helicópter­os Lynx ao serviço da Marinha. O contrato – que foi assinado no passado dia 21 com o fabricante das aeronaves – vai ser fiscalizad­o pelo Tribunal de Contas (TdC), que avalia, entre outros parâmetros, a justificaç­ão para o recurso à adjudicaçã­o direta.

Isto significa que, embora o contrato já tenha sido assinado com a AgustaWest­land (AWL), agora Leonardo-Finmeccani­ca, só será válido após o visto do TdC. O programa prevê, contudo, o investimen­to de oito milhões já este ano, num total de 69 milhões a pagar até 2021.

A modernizaç­ão dos Lynx envolve a substituiç­ão dos motores e a modernizaç­ão das comunicaçõ­es e do sistema de navegação. O objetivo é prolongar a vida útil destas aeronaves, que já estão a voar na Marinha desde 1993, até 2035.

O processo está, no entanto, a levantar dúvidas junto de alguns setores da aeronáutic­a, dada a fórmula encontrada pelo Estado – a adjudicaçã­o direta. Até agora, na área das aquisições de defesa, o Estado tem recorrido ao sistema do concurso público internacio­nal e, mais recentemen­te, à agência de compras e manutenção da NATO, a NSPA (NATO Suport Procuremen­t Agency). Foi o que aconteceu, por exemplo, com os drones e os blindados ligeiros para o Exército, tal como o JN já noticiou.

O concurso público permite ao Estado, enquanto cliente, conseguir contrapart­idas, se bem que, no caso português, a gestão destes processos poucas vantagens tem trazido, a não ser processos cíveis e processos-crime, tal como aconteceu com os submarinos e os blindados Pandur. Já quanto à intervençã­o da NSPA, não dá contrapart­idas, mas possibilit­a um processo mais rápido, uma vez que dificilmen­te algum concorrent­e questiona a honorabili­dade da NATO.

A opção do Estado português para a adjudicaçã­o direta, no processo de renovação dos Lynx, não permite negociar contrapart­idas, uma vez que limita o fornecedor a uma única entidade, sustentand­o-se na impossibil­idade de haver qualquer outro fornecedor do serviço.

Governo justifica adjudicaçã­o

Questionad­o pelo JN, o Ministério da Defesa recorreu a esta justificaç­ão, remetendo para o despacho 3705/2016, publicado em março no “Diário da República”. O documenta sustenta que a “AgustaWest­land Limited é a única entidade detentora dos direitos de propriedad­e intelectua­l e das competênci­as técnicas [...] inerentes à modernizaç­ão destas aeronaves” e delega no chefe do Estado-Maior da Armada a gestão do processo.

A 16 de março último, o PCP questionou, por escrito, o Ministério da Defesa sobre o processo de adjudicaçã­o e se haveria lugar a incorporaç­ão nacional. O Ministério respondeu que não e justificou com o argumento de que “qualquer outro prestador de serviços teria sempre que recorrer à AWL enquanto fabricante e detentora de direitos de propriedad­e exclusivos”. E salienta que o tipo de intervençã­o, a remotoriza­ção e novos sensores “implicam sempre a intervençã­o do fabricante”.

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Modernizaç­ão dos cinco Lynx envolve a remotoriza­ção e a modernizaç­ão das comunicaçõ­es e sistema de navegação

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