Passos critica Costa mas convida-o para formar Governo
Líder do PSD convida António Costa para solução de bloco central. PS não respondeu à Direita nem à Esquerda. BE também pressiona líder socialista
Pedro Passos Coelho decidiu ontem subir a parada: desafiou o PS para uma coligação de Governo com o PSD e o CDS. António Costa ficou em silêncio. Hoje de manhã, o líder do PSD vai a Belém sem ter para apresentar a solução estável para o país que Cavaco Silva lhe pediu dois dias depois das eleições de 4 de outubro, e das quais não resultou uma maioria absoluta para nenhuma força política.
As conversas com António Costa não foram reatadas, apenas uma dura troca de cartas foi tornada pública. E à Esquerda também não há ainda qualquer solução à vista.
Depois das duas reuniões “inconclusivas” entre a coligação de Direita e o PS, e da troca de propostas que, na opinião de Passos, “frustram as expectativas de quem contava com a prossecução das conversas”, o líder da coligação Portugal à Frente (PàF) decidiu propor a Costa um Governo de Bloco Central, apesar das críticas que lhe são feitas.
“Se o PS prefere discutir estas matérias enquanto futuro membro de uma coligação de Governo mais alargada, que inclua, além do PSD e do CDS, o próprio PS, então que o diga também com clareza”, escreveu, numa carta endereçada a Costa e tornada pública a meio da manhã de ontem. À tarde, em Espinho, o social-democrata Luís Montenegro reforçou a mensagem. “A carta reitera a posição da coligação com o PS, no sentido de estarmos dispo- níveis para que o PS possa objetivar uma contraproposta, visto que, aparentemente, não concorda com a nossa proposta objetiva”.
No entanto, a manifestação de abertura não invalida os reparos. “O PS vem trazer à tona aquilo que foi o seu posicionamento político nos últimos anos: não é carne, nem é peixe. Isso explica que esteja, ao mesmo tempo, a tentar simular uma aproximação com a coligação e a negociar com o BE e PCP”, disse. O secretário-geral socialista não respondeu à carta nem às críticas. E, no PS, também ninguém reagiu.
A mesma ausência de resposta foi ontem mencionada por Catarina Martins. A porta-voz do Bloco de Esquerda (BE) afirmou, no final da reunião da Mesa Nacional do partido, que “o BE apresentou propostas concretas, com números”, ao PS, e “espera obter, da outra parte, respostas concretas também”. Uma das propostas é a reversão imediata dos cortes salariais da Função Pública, que compreende um custo de 850 milhões de euros.
O PS, que pretende respeitar o Tratado Orçamental, “está a fazer contas”, afirmou ao JN fonte do PS. “As negociações têm que considerar as medidas de incidência orçamental, mas têm que ser analisadas no contexto das restrições orçamentais do país”, justificou.
Do lado do PSD, esboroada que está a esperança de poder vir a existir um entendimento com o PS, as baterias estão agora concentradas na fragmentação da bancada parlamentar socialista. Os apoiantes do anterior secretário-geral do partido, António José Seguro, podem ser a boia de salvação para que um Governo da coligação PSD/CDS-PP possa entrar em funções, mesmo que PCP e BE apresentem, como já anunciaram, moções de rejeição. A coligação precisa apenas de nove votos para passar e os apoiantes de Seguro são quase o dobro.