Opositores não baixam armas
Língua Milhares ainda rejeitam novo tratado. Referendo é objetivo, mas há quem acredite na “implosão” do AO
O Acordo Ortográfico (AO) pode ser já uma realidade incontornável para a grande maioria dos portugueses, mas uma faixa da população continua a não querer ouvir falar sequer na sua aplicação.
A recusa de escrever “acordês”, como os detratores apelidam as regras do AO, não é a única forma de protesto. Das petições às manifestações, são várias as ações em curso, embora seja na rede social Facebook que se concentra a principal bolsa de resistência. Os vários grupos contestatários ultrapassam mesmo a centena de milhar de membros, enquanto os defensores não vão além da percentagem ínfima desse total.
A maior dessas comunidades, “Em ACção Contra o Acordo Ortográfico”, possui quase 65 mil seguidores. Para Madalena Homem Cardoso, uma das gestoras desta plataforma de mobilização, defende que “não há revisão possível” que salve o AO. Além da “inépcia técnica”, entende que o tratado, tal como foi concebido, “é uma manta de retalhos” e acusa mesmo os linguistas que o ela- boraram “de terem andado durante anos a veranear à conta de todos nós”.
Apesar de unidos pelo mesmo propósito, os grupos adotam estratégias distintas. O Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, com mais de 28 mil membros, tem procurado travar o AO através de ações judiciais e manifestações, como a que ocorreu há uma semana em Lisboa, que reuniu algumas dezenas de participantes.
O próximo grande objetivo é a angariação de 75 mil assinaturas para que a Assembleia da República se pronuncie sobre um referendo. O número é visto por Ivo Miguel Barroso, um dos porta-vozes do movimento, como “excessivo”, já que “para formar um partido político bastam 7500”.
Já com 20% das assinaturas recolhidas, o advogado e professor de Direito não pensa em afrouxar a luta, convencido que está das “inconstitucionalidades várias do AO”. “O Estado não pode intervir na língua”, reitera.
A hipótese de a população poder pronunciar-se em referendo sobre o Acordo é rejeitada com vigor por Madalena Homem Cardoso, para quem “a língua não é referendável”. “O referendo é um tiro no pé. Mesmo que se realize, jamais será vinculativo. Para que isso acontecesse, a participação teria que ser superior a 50%”, aponta ainda.
A comunidade Em ACção Contra o Acordo Ortográfico aposta, por isso, no cenário da “implosão” do tratado. Além de acreditarem que “o caos ortográfico vai alastrar”, os seus membros mostram-se convictos de que o Brasil vai voltar a protelar a entrada em vigor e que Angola e Moçambique vão continuar a recusar a ratificação.