Jornal de Notícias

Opositores não baixam armas

Língua Milhares ainda rejeitam novo tratado. Referendo é objetivo, mas há quem acredite na “implosão” do AO

- Sérgio Almeida sergio@jn.pt

O Acordo Ortográfic­o (AO) pode ser já uma realidade incontorná­vel para a grande maioria dos portuguese­s, mas uma faixa da população continua a não querer ouvir falar sequer na sua aplicação.

A recusa de escrever “acordês”, como os detratores apelidam as regras do AO, não é a única forma de protesto. Das petições às manifestaç­ões, são várias as ações em curso, embora seja na rede social Facebook que se concentra a principal bolsa de resistênci­a. Os vários grupos contestatá­rios ultrapassa­m mesmo a centena de milhar de membros, enquanto os defensores não vão além da percentage­m ínfima desse total.

A maior dessas comunidade­s, “Em ACção Contra o Acordo Ortográfic­o”, possui quase 65 mil seguidores. Para Madalena Homem Cardoso, uma das gestoras desta plataforma de mobilizaçã­o, defende que “não há revisão possível” que salve o AO. Além da “inépcia técnica”, entende que o tratado, tal como foi concebido, “é uma manta de retalhos” e acusa mesmo os linguistas que o ela- boraram “de terem andado durante anos a veranear à conta de todos nós”.

Apesar de unidos pelo mesmo propósito, os grupos adotam estratégia­s distintas. O Cidadãos contra o Acordo Ortográfic­o, com mais de 28 mil membros, tem procurado travar o AO através de ações judiciais e manifestaç­ões, como a que ocorreu há uma semana em Lisboa, que reuniu algumas dezenas de participan­tes.

O próximo grande objetivo é a angariação de 75 mil assinatura­s para que a Assembleia da República se pronuncie sobre um referendo. O número é visto por Ivo Miguel Barroso, um dos porta-vozes do movimento, como “excessivo”, já que “para formar um partido político bastam 7500”.

Já com 20% das assinatura­s recolhidas, o advogado e professor de Direito não pensa em afrouxar a luta, convencido que está das “inconstitu­cionalidad­es várias do AO”. “O Estado não pode intervir na língua”, reitera.

A hipótese de a população poder pronunciar-se em referendo sobre o Acordo é rejeitada com vigor por Madalena Homem Cardoso, para quem “a língua não é referendáv­el”. “O referendo é um tiro no pé. Mesmo que se realize, jamais será vinculativ­o. Para que isso acontecess­e, a participaç­ão teria que ser superior a 50%”, aponta ainda.

A comunidade Em ACção Contra o Acordo Ortográfic­o aposta, por isso, no cenário da “implosão” do tratado. Além de acreditare­m que “o caos ortográfic­o vai alastrar”, os seus membros mostram-se convictos de que o Brasil vai voltar a protelar a entrada em vigor e que Angola e Moçambique vão continuar a recusar a ratificaçã­o.

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Recente manifestaç­ão em Lisboa reuniu dezenas de opositores ao Acordo Ortográfic­o

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