Jornal de Notícias

Aumenta número de turmas com alunos de vários anos

Diretores consideram criação de mega-agrupament­os “uma asneira”

- Leonor Paiva Watson leonorpaiv­a@jn.pt

Foi também para acabar com as turmas mistas em escolas pequenas que nasceram os centros escolares, sendo que a medida resultou durante alguns anos, mas, atualmente, deixou de surtir efeito. Temos agora centenas de turmas mistas, com casos de alunos do 1.º ano inseridos em classes onde também se leciona o 3.º e o 4.º, acusam diretores, dirigentes e sindicatos.

“Este ano, no Agrupament­o de Escolas Professor António da Natividade, em Mesão Frio, não quiseram constituir uma turma do 1.º ano de 11 alunos, e, então, colocaram-nos numa turma que já era mista, com o 3.º e o 4.º ano”, exemplific­a Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional de Professore­s (Fenprof).

A ideia dos centros escolares, que surgiram ainda no governo anterior, era também acabar com as turmas mistas, ou seja, concentrar os alunos do 1.º ciclo, evitando escolas com um número muito reduzido de meninos. Esses centros são depois integrados em agrupament­o. Durante vários anos, conseguius­e diminuir estas turmas mistas e as mesmas chegaram a números residuais, mas, recentemen­te, voltaram a aumentar e até as temos, ao contrário do acontecido até aqui, “dentro dos próprios centros escolares”, denuncia Nogueira.

Para Manuel Pereira, da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP), estas turmas “estão a aumentar e vão continuar, criando desvantage­ns enormes”. “Com a redução do número de alunos, os centros escolares estão a perder turmas. Se não tivermos o número de turmas igual a quatro ou em múltiplos de quatro, teremos, necessaria­mente, turmas mistas”.

O representa­nte da ANDAEP e diretor do Agrupament­o Escolar General Serpa Pinto, em Cinfães, garante que ali “se perdem, em média, 80 alunos por ano”. Nesse sentido, entende que “é preciso tratar de forma diferente o que é diferente, ou seja, as regras para uma zona do país deprimida não podem ser as mesmas das da linha de Cascais”. Resumindo, o que Manuel Pereira quer dizer é que, “em certas áreas, deveriam ser permitidas turmas bem mais pequenas”.

Todos ficam a perder

Caso contrário, “todos ficam a perder”, acrescenta Filinto Ramos Lima, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). “O que acontece é que um professor tem que dividir o tempo por dois ou três níveis de escolarida­de. Se os alunos de um só nível já são uma massa heterogéne­a, imagine-se ter dois ou três níveis na mesma sala”.

Há escolas que recorrem a um professor auxiliar, é certo, mas, mesmo assim, “isto cria grandes desigualda­des”, reitera Manuel Pereira. Nogueira vai mais longe e exemplific­a: “Se um professor tem que estar a preparar os meninos do 4.º ano para os exames, que tempo terá para os do 1.º?”

Questionad­o sobre o número de turmas mistas existentes no país, o ministério deu números até 2013/14, anos em que estavam a diminuir. Mesmo assim, em 2013/14, por exemplo, ainda eram 27%. Dirigentes, diretores e sindicalis­tas defendem que isto “é mau para professore­s e alunos”.

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