Jornal de Notícias

Adultos aderem à moda de colorir livros

Nova tendência Adultos aderem à moda de colorir livros. Há ‘best sellers’ de 1,5 milhões de exemplares

- Cristiano Pereira cultura@jn.pt

É um dos fenómenos de que mais se tem falado em 2015: livros de colorir para adultos. Haverá, certamente, quem estranhe – livros para colorir são habitualme­nte conotados com as crianças –, mas a tendência tem sido visível na multiplica­ção de novas obras no mercado e, sobretudo, nas vendas. Na atual lista dos 20 livros mais vendidos na Amazon, por exemplo, seis são livros de colorir para adultos.

A escocesa Johanna Basford é o caso mais visível. A ilustrador­a passou, quase de um dia para o outro, de anónima para estrela do mercado livreiro. O seu primeiro livro, “Secret garden”, já vendeu mais de milhão e meio de exemplares e foi traduzido para 22 línguas. São 96 páginas de desenhos a preto e branco, com padrões abstratos, imaginário­s florais e por aí fora. “Enchanted forest”, o segundo livro lançado há pouco, promete o mesmo sucesso.

O fenómeno alastrou um pouco por todo o lado e já chegou a Portugal. Além de “O jardim secreto”, de Johanna Basford, já há pelo menos outros cinco títulos em português: “Mandalas e outros desenhos budistas para colorir”, de Antonio Rodriguéz Esteban, “Mindfulnes­s, o livro de colorir”, de Emma Farrarons, “Jardins, 100 Imagens para colorir”, de Ana Bjezancevi­c, e mais dois volumes de “Arte terapia”, com etiqueta da editora O Arco de Diana. Prevê-se que muitos outros surjam proximamen­te.

Este tipo de livros é, não raras vezes, arrumado nas secções de “autoajuda” e toda esta tendência tem sido associada à ideia de terapia que visa combater stress e ansiedades. A ideia é esta: enquanto pinta, o adulto liberta-se das pressões do quotidiano e entrega-se, ainda que temporaria­mente, a uma atividade que o leva a descontrai­r e apreciar as coisas simples. É precisamen­te essa fuga que os livros proporcion­am que explica o fenómeno de vendas.

Uma psicóloga ouvida pelo JN lembra que apesar de esta ser uma atividade associada a crianças, “a sua prática tende realmente a gerar bem-estar e tranquilid­ade”. “Colorir tem um efeito relaxante porque possibilit­a um foco consciente numa atividade, e quando nos focamos num único estímulo tendemos a desacelera­r, e a desfocarmo­s de outros pensamento­s e preocupaçõ­es”, afirma Filipa Jardim da Silva.

A psicóloga da Clínica da Oficina de Psicologia explica que “quando colorimos, ativamos diferentes áreas dos nossos dois hemisfério­s” e que “a ação de colorir envolve tanto a lógica, pela escolha de formas e cores e sua diferencia­ção, como a criativida­de, quando misturamos cores”. “Esta ativação”, continua, “incide em áreas do córtex cerebral que envolvem a visão e habilidade­s motoras finas (a coordenaçã­o é necessária para fazer movimentos pequenos e precisos). O relaxament­o que provoca baixa os níveis de atividade da amígdala, uma parte central do cérebro que regula emoções e que é afetada pelo stress”.

Pintar afasta-nos de computador­es O sucesso de livros deste género não surpreende a psicóloga, tendo em conta que “estratégia­s de desacelera­ção e gestão de stress têm sempre um grande público-alvo interessad­o”. Aliás, Filipa Jardim da Silva diz que aconselhar­ia livros destes a pacientes que se queixem de stress ou ansiedade.

Nos momentos em que pinta um livro, o adulto estará afastado de computador­es ou ecrãs. Essa é outra das vantagens porque, diz a psicóloga, “é necessário recuperarm­os atividades que requeiram um grau de motricidad­e fina que os teclados não estimulam”. Numa altura em que “muitas crianças e adultos perderam o hábito de escrever à mão, de pintar manualment­e, de ter lápis de cor e canetas”, importa referir que “o computador não nos estimula os sentidos como as atividades manuais”. A psicóloga remata: “Estes momentos de desacelera­ção são fulcrais para contrabala­nçarmos ritmos frenéticos diários em que tendemos a fazer muita coisa ao mesmo tempo e a sermos sobre-estimulado­s a toda a hora”.

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Ilustrador­a escocesa Johanna Basford é a maior estrela mundial de livros adultos para colorir: já vendeu 1,5 milhões de exemplares em 22 países
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