Adultos aderem à moda de colorir livros
Nova tendência Adultos aderem à moda de colorir livros. Há ‘best sellers’ de 1,5 milhões de exemplares
É um dos fenómenos de que mais se tem falado em 2015: livros de colorir para adultos. Haverá, certamente, quem estranhe – livros para colorir são habitualmente conotados com as crianças –, mas a tendência tem sido visível na multiplicação de novas obras no mercado e, sobretudo, nas vendas. Na atual lista dos 20 livros mais vendidos na Amazon, por exemplo, seis são livros de colorir para adultos.
A escocesa Johanna Basford é o caso mais visível. A ilustradora passou, quase de um dia para o outro, de anónima para estrela do mercado livreiro. O seu primeiro livro, “Secret garden”, já vendeu mais de milhão e meio de exemplares e foi traduzido para 22 línguas. São 96 páginas de desenhos a preto e branco, com padrões abstratos, imaginários florais e por aí fora. “Enchanted forest”, o segundo livro lançado há pouco, promete o mesmo sucesso.
O fenómeno alastrou um pouco por todo o lado e já chegou a Portugal. Além de “O jardim secreto”, de Johanna Basford, já há pelo menos outros cinco títulos em português: “Mandalas e outros desenhos budistas para colorir”, de Antonio Rodriguéz Esteban, “Mindfulness, o livro de colorir”, de Emma Farrarons, “Jardins, 100 Imagens para colorir”, de Ana Bjezancevic, e mais dois volumes de “Arte terapia”, com etiqueta da editora O Arco de Diana. Prevê-se que muitos outros surjam proximamente.
Este tipo de livros é, não raras vezes, arrumado nas secções de “autoajuda” e toda esta tendência tem sido associada à ideia de terapia que visa combater stress e ansiedades. A ideia é esta: enquanto pinta, o adulto liberta-se das pressões do quotidiano e entrega-se, ainda que temporariamente, a uma atividade que o leva a descontrair e apreciar as coisas simples. É precisamente essa fuga que os livros proporcionam que explica o fenómeno de vendas.
Uma psicóloga ouvida pelo JN lembra que apesar de esta ser uma atividade associada a crianças, “a sua prática tende realmente a gerar bem-estar e tranquilidade”. “Colorir tem um efeito relaxante porque possibilita um foco consciente numa atividade, e quando nos focamos num único estímulo tendemos a desacelerar, e a desfocarmos de outros pensamentos e preocupações”, afirma Filipa Jardim da Silva.
A psicóloga da Clínica da Oficina de Psicologia explica que “quando colorimos, ativamos diferentes áreas dos nossos dois hemisférios” e que “a ação de colorir envolve tanto a lógica, pela escolha de formas e cores e sua diferenciação, como a criatividade, quando misturamos cores”. “Esta ativação”, continua, “incide em áreas do córtex cerebral que envolvem a visão e habilidades motoras finas (a coordenação é necessária para fazer movimentos pequenos e precisos). O relaxamento que provoca baixa os níveis de atividade da amígdala, uma parte central do cérebro que regula emoções e que é afetada pelo stress”.
Pintar afasta-nos de computadores O sucesso de livros deste género não surpreende a psicóloga, tendo em conta que “estratégias de desaceleração e gestão de stress têm sempre um grande público-alvo interessado”. Aliás, Filipa Jardim da Silva diz que aconselharia livros destes a pacientes que se queixem de stress ou ansiedade.
Nos momentos em que pinta um livro, o adulto estará afastado de computadores ou ecrãs. Essa é outra das vantagens porque, diz a psicóloga, “é necessário recuperarmos atividades que requeiram um grau de motricidade fina que os teclados não estimulam”. Numa altura em que “muitas crianças e adultos perderam o hábito de escrever à mão, de pintar manualmente, de ter lápis de cor e canetas”, importa referir que “o computador não nos estimula os sentidos como as atividades manuais”. A psicóloga remata: “Estes momentos de desaceleração são fulcrais para contrabalançarmos ritmos frenéticos diários em que tendemos a fazer muita coisa ao mesmo tempo e a sermos sobre-estimulados a toda a hora”.