Jornal de Notícias

Estado avalia mal as casas e cobra IMI a mais às famílias

Fisco fez atualizaçã­o tendo apenas em conta a desvaloriz­ação da moeda. Honório Novo, deputado do PCP quando a lei foi aprovada, é uma das vítimas do que chama “burla qualificad­a”

- Alexandra Figueira afigueira@jn.pt

Milhares de pessoas estão pagar mais IMI do que deviam este ano. E o cenário pode ficar ainda pior depois da revisão dos mapas de localizaçã­o, diz a Associação de Proprietár­ios Lisbonense­s. Está em curso uma avaliação automática pelo Fisco que pode subir o valor patrimonia­l atribuído aos imóveis. O valor apurado automatica­mente não é comunicado ao dono, que não pode reclamar e que só se apercebe da conta mais alta do que o esperado quando recebe a nota de liquidação. “É uma burla qualificad­a”, acusa o ex-deputado Honório Novo.

A história de Honório Novo espelha a de muitas pessoas. Na mega-avaliação que arrancou em 2011 e decorreu sobretudo em 2012, o Fisco atribuiu ao seu apartament­o o valor de 119 966 euros. Três anos depois, alertado por notícias, simulou o valor patrimonia­l atual e concluiu que só valia 94 990 euros, pelo que pagaria menos IMI. Em dezembro pediu a reavaliaçã­o e, em janeiro, o Fisco confirmou o resultado da simulação. Foi com surpresa, portanto, que em março recebeu a conta do IMI, não mais baixa como esperava, mas mais alta.

Nas Finanças, contou Honório Novo ao JN, explicaram-lhe o sucedido. No ano passado, três anos após a mega-avaliação de 2011, o Fisco cumpriu a lei e fez uma atualizaçã­o automática. Diz o penúltimo artigo do Código do IMI que a atualizaçã­o é feita mediante um único fator, a desvaloriz­ação da moeda, o que fez subir o valor para 122 665 euros.

A norma está na lei, mas nem Honório Novo, que na altura em que o código foi aprovado era membro da Comissão de Orçamento e Finanças do Parlamento, estava consciente da sua existência e do impacto que pode ter no montante do imposto a pagar.

Agora, e porque pediu a reavaliaçã­o em 2014, paga a prestação de IMI “errada” em abril e depois o Fisco acertará contas. Se só tivesse pedido a avaliação em 2015, teria de pagar todo o imposto cobrado (o IMI é pago em 2015 mediante o valor do imóvel em 2014). Ainda, além do aumento calculado pelo Governo, também a Câmara de Matosinhos subiu a taxa do imposto. Novo mapa só ajuda quem pedir O valor patrimonia­l do imóvel de Honório Novo desceu por duas razões: porque a avaliação anterior dizia que o metro quadrado valia 612,50 euros e agora o Governo fixa esse valor em 603 euros; e porque entretanto ultrapasso­u um dos escalões de idade do imóvel, baixando o coeficient­e de vetustez (quanto mais antigo, menos paga). Quem estiver nesta situação deve fazer uma simulação, para saber se vale a pena pedir a atualizaçã­o do valor.

Mas, no verão, outra mudança pode ter impacto no IMI a pagar em 2016. O Fisco está a redesenhar o mapa de localizaçã­o (um imóvel na zona nobre da cidade vale mais do que na periferia). O anterior mapa foi feito “sem um critério que se compreenda”, acusa o presidente da Associação de Proprietár­ios Lisbonense­s, Luís Menezes Leitão.

As Finanças garantem que o novo vai beneficiar “a generalida­de dos proprietár­ios”, mas só os que tomarem a iniciativa de pedir a avaliação, critica Menezes Leitão. Se não o fizerem, não só podem ser prejudicad­os pela avaliação automática feita de três em três anos como podem estar a pagar um coeficient­e de localizaçã­o mais alto do que deviam, alerta. Questionad­o sobre quantas pessoas poderão ser prejudicad­as, diz que em Portugal existem sete milhões de imóveis.

O valor da construção e o indicador da idade podem fazer baixar o valor patrimonia­l e o imposto a pagar

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Se Honório Novo não tivesse pedido em 2014 uma revisão do valor patrimonia­l da casa, iria agora pagar mais imposto
FERNANDO PEREIRA / GLOBAL IMAGENS Se Honório Novo não tivesse pedido em 2014 uma revisão do valor patrimonia­l da casa, iria agora pagar mais imposto

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