Cápsulas ganham terreno ao café tradicional
Consumo a subir
Com um consumo per capita de apenas 4,73 kg de café por ano, os portugueses não são os mais viciados em cafeína – os finlandeses consomem o triplo. Mas são dos que pagam mais pelo café, visto que, de acordo com o Euromonitor, só no Japão e em Itália a “bica” é mais dispendiosa. Cada português beberá 1324 cafés por ano e, se o fizer fora de casa a um preço unitário de 60 cêntimos, tal significa que gastará perto de 800€ anualmente. Será por isso que, desde o início da crise, em 2011, cada vez se consome mais café em casa – mesmo que o mais caro, em cápsulas, possa ficar a 30 cêntimos por chávena, ainda permite poupar 50%.
“Notamos transferência do consumo, do canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés) para o consumo doméstico, aliás, crescemos muito quando lançámos as cápsulas compatíveis com ‘Nespresso’, em 2013, e continua a correr muito bem. Já temos duas linhas de produção, incluindo o fabrico do copinho de plástico, e já vendemos umas dezenas de milhões de unidades desde que as lançámos”, revelou João Dotti, diretor-geral da Nutricafés, um dos principais players do mercado nacional, especialmente no canal Horeca. “Durante a crise, as vendas Horeca caíram a pique (30%), mas desde o final de 2014 que notamos alguma recuperação”, adiantou ainda o responsável.
A Delta é a líder do mercado das cápsulas e o CEO, Rui Miguel Nabeiro, garante que o negócio conti- nua a crescer. “Em 2014, as cápsulas Delta Q cresceram perto de 10% e já representam 20% do negócio da Delta”, revelou. Lançadas em 2007 pela empresa alentejana, as cápsulas são 100% made in Portugal, mas também já partiram à conquista do Mundo. “Estão em Angola, no Brasil, em França, no Luxemburgo e, desde há um ano, na China. A exportação deste produto ainda não chega a 10% e, no total, exportamos 25% da nossa produção”, explicou o CEO da maior empresa de Campo Maior.
As 60 mil toneladas produzidas em Portugal no ano passado saíram de pouco mais de 20 empresas que detêm 70 a 80 marcas, embora 90% do mercado seja dominado por meia dúzia: Delta, Nestlé, Nutricafés, Newcoffee, Torrié e Segafredo. A Nestlé não adianta valores de negócio, referindo apenas que “as vendas têm verificado uma evolução positiva, alicerçada na venda de cápsulas e na recuperação do canal de restauração e hotelaria”.
Sujeito a especulação
Depois da quebra no consumo e da subida do IVA na restauração, este ano, o setor enfrenta outro desafio: o café é a segunda mercadoria mais transacionada do Mundo (a seguir ao petróleo) e a sua cotação está sujeita a especulação. “Devido à forte valorização do dólar estamos a pagar a matéria-prima 20 a 25% mais cara. Este ano, todos os torrefatores estão a tirar às suas margens para não subir preços, visto que os clientes Horeca que não fecharam portas continuam aflitos”, revelou João Dotti.