Jornal de Notícias

Reembolso antecipado ao FMI acelerou aumento da dívida

Ministra das Finanças justificou aumento do endividame­nto em 2014. António Costa e PCP lançam críticas

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A MINISTRA das Finanças justificou ontem o aumento da dívida pública em 2014 com o reforço do financiame­nto no mercado no final do ano para antecipar os reembolsos ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). Maria Luís Albuquerqu­e fez questão de esclarecer esse ponto durante a Lisbon Summit 2015, que decorreu ontem, em Cascais.

A abertura da conferênci­a organizada pela revista britânica “The Economist” esteve a cargo de Paulo Portas. “Portugal terá, em 2015, uma trajetória descendent­e na sua dívida pública”, disse o vice-primeiro-ministro, indicando que a dívida cairá vários pontos este ano e relembrand­o que caiu já “com algum significad­o no último trimestre de 2014.

Portas salientou ainda que o Governo já “começou negociaçõe­s para reembolsar parte do empréstimo do FMI, pela simples razão de que os juros do empréstimo eram superiores aos que podíamos obter nos mercados”. E, se é possível obter financiame­nto mais barato, “faz todo o sentido pagar antecipada­mente, porque o país não abunda em dinheiro e é preciso fazer uma gestão criteriosa”.

A dívida pública estabilizo­u a partir do segundo trimestre de 2013 (131,5% do PIB), e começou já a baixar (128,7% do PIB no 4. trimestre de 2014), tendo caído 2,8 pontos percentuai­s do PIB. Significa isto que os contribuin­tes portuguese­s devem agora cerca de 224,5 mil milhões de euros aos credores nacionais e estrangeir­os, tendo o Governo PSD/CDS agravado esse en- dividament­o em 2,6 mil milhões de euros mais do que estava no orçamento aprovado no final do ano passado pela maioria de direita. Ora, este agravament­o terá ficado a dever-se à intenção de reembolsar o FMI de forma antecipada.

Maria Luís Albuquerqu­e acrescento­u ainda que a dívida do setor privado diminuiu, consideran­do, por isso, que “a consolidaç­ão da dívida portuguesa está a avançar tal como tinha sido previsto e como é desejável para a sua sustentabi­lidade”.

“Hoje devemos mais do que devíamos no início do ajustament­o” e “só este ano temos para pagar de juros tanto quanto a receita total obtida com privatizaç­ões [8,4 mil milhões, segundo o IGCP]”, mesmo já tendo sido “em muito ultrapassa­do o programa inicial de privatizaç­ões”, notou António Costa, líder socialista, também presente na Lisbon Summit.

A partir da sede lisboeta do PCP, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, condenou, ontem, a “oratória de propaganda” do Governo da maioria PSD/CDS-PP sobre a dívida portuguesa, afirmando que “os números falam por si” e é preciso avançar para a renegociaç­ão. “O primeiro-ministro e a ministra das Finanças garantiam a pés juntos que a dívida continuava a ser sustentáve­l e iria ser reduzida. Foi mais um anúncio, uma promessa, que falhou”.

PAULO PORTAS GARANTE QUE DÍVIDA PÚBLICA VAI DESCER AO LONGO DESTE ANO

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MÁRIO CRUZ / LUSA Maria Luís Albuquerqu­e explicou motivos para aumento da dívida pública

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